Black Friday: assine a partir de 1,00/semana
Imagem Blog

Supernovas

Por redação Super Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog não é mais atualizado. Mas fique à vontade para ler o conteúdo por aqui!
Continua após publicidade

A sonda Parker decola rumo ao Sol na madrugada deste sábado

Chegar à estrela não é fácil: o lançamento exige 55 vezes mais energia que uma viagem à Marte. E o trajeto conta com uma ajudinha da gravidade de Vênus.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 ago 2018, 21h00 - Publicado em 10 ago 2018, 20h53

Uma das coisas bacanas de trabalhar em uma revista que nem a SUPER é que volta e meia alguém da equipe de arte te convida para fazer um negócio diferente. É o caso da imagem acima: um modelo de LEGO da sonda espacial Parker, da NASA, que eu montei especialmente para ilustrar a nossa edição de maio.

Eu resolvi recuperar minha brincadeira com as pecinhas porque a Parker vai decolar às 4h33 da madrugada deste sábado (11), horário de Brasília, do Kennedy Space Center, na Flórida. O anúncio definitivo foi feito pela agência espacial americana na quinta (9), após um pequeno atraso em relação a previsão de lançamento original, que era 31 de julho. Quem quiser acordar cedo (ou dormir tarde, depende da perspectiva) pode acompanhar o lançamento ao vivo pela internet.

Embora a sonda em si tenha o tamanho de um carro 1.0, o foguete usado para transportá-la será o Delta IV Heavy, com 72 metros de altura e 600 toneladas de combustível no tanque. Dos veículos de lançamento em operação atualmente, ele é o segundo mais poderoso – só perde em capacidade para o inacreditável Falcon Heavy, de Elon Musk, que fez história no começo do ano.

O destino não é dos mais distantes: o Sol, que fica, em média, a 148 milhões de quilômetros da Terra. Essa distância varia ligeiramente ao longo do ano porque nosso planeta não percorre um círculo perfeito, mas sim uma elipse – isto é, um trajetória ovalada – em torno da estrela.

A Parker começará sua viagem dando uma volta em Vênus. Essa pequena parada antes do destino final servirá para a sonda perder velocidade e entrar em uma trajetória que a permitirá passar a 3,9 milhões de quilômetros da superfície do Sol (7 vezes mais perto do que o recorde atual). É uma distância enorme na escala humana, mas na escala cósmica, é uma fina de dar medo – dessas de motoboy em retrovisor.

Continua após a publicidade

Por isso, a Parker protegerá seus instrumentos científicos com um escudo de 11,5 centímetros, que alcançará 1371ºC, mas será capaz de manter uma temperatura próxima a 29ºC no interior da fuselagem. Isolamento térmico padrão Fifa. A nave precisa estar posicionada de forma que esse escudo sempre se interponha entre ela e a estrela – caso qualquer outra parte seja exposta à luz intensa, não vai sobrar muita coisa para contar a história.

A temperatura das partículas que compõem a coroa – a camada mais externa da atmosfera do Sol, que será atravessada pela Parker – beira ridículos 3000000ºC. Por que, então, o escudo alcança “apenas” 1400ºC? Simples: a temperatura é só uma medida de agitação das partículas. Mas para essas partículas transferirem calor para as coisas com que eles entram em contato, elas precisam vir aos montes. A densidade da coroa é extremamente baixa, ou seja: apesar de quente, a região é “diluída” o suficiente para não ser um problema.

O Sol, sozinho, é responsável por 99,8% da massa do nosso sistema estelar (inclua Júpiter nesse conta). Essa concentração de massa absurda pode fazer parecer que chegar lá é fácil: com tanta gravidade, praticamente qualquer coisa que você soltar no espaço aberto vai cair na direção dele, certo? Errado, infelizmente. Afinal, se ser engolido pelo Sol fosse assim tão simples, o Tesla Roadster lançado no espaço ao som de David Bowie em fevereiro já teria caído lá faz tempo.

Continua após a publicidade

A verdade é que chegar ao Sol exige 55 vezes mais energia no momento do lançamento do que chegar a Marte. Isso acontece porque a Terra já está se movimentando. E rápido: giramos em torno do astro rei à 110 mil quilômetros por hora. Para fugir da influência do nosso planeta – que quer que tudo continue girando em torno da estrela, em vez de cair na direção dela – é preciso fazer força para dentro.

Ao longo dos 7 anos de missão, a Parker se aproximará do Sol 24 vezes (a primeira delas daqui três meses). No intervalo entre essas aproximações, ela passará em outras ocasiões na vizinhança de Vênus – sempre usando a gravidade do planeta para ajustar sua rota. Cada um desses delicados cabos-de-guerra keplerianos é calculado à exaustão por astrofísicos. Qualquer imprecisão, por menor que seja, pode desviar a sonda para longe da estrela – ou, o que é pior, para perto demais dela.

A expectativa é que, nesse longo período de bronzeado cósmico, a sonda colete dados que respondam às perguntas ainda sem resposta sobre o astro mais importante para a vida na Terra. Só para dar um exemplo: a fotosfera – que é, para todos os efeitos, a “superfície” do Sol – fica a mais ou menos 5500ºC. Mas se você se afasta dessa região, a temperatura, em vez de cair, fica 500 vezes mais alta (lembra do papo sobre a coroa, alguns parágrafos atrás?). É como tomar distância de um forno e descobrir que na verdade está mais quente do outro lado da cozinha do que na frente do eletrodoméstico. Não faz sentido.

A Parker sabe melhor do que ninguém que curiosidade mata: depois de completar sua longa busca por respostas, ela não terá mais combustível para reajustar sua posição em relação ao Sol. Nesse momento, ela perderá a proteção do escudo. E, por falta de uma palavra melhor, será cremada. Um fim digno de Ícaro para a maior desbravadora de estrelas já construída.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.