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Reflorestamento poderia gerar 2,5 milhões de empregos no Brasil, calcula estudo

Número seria suficiente para reduzir em quase 25% o desemprego no país; plano da ONU propõe recuperar 120 milhões de hectares de florestas, uma área equivalente à do Peru, para combater aquecimento global

Por Juan Ortiz e Sílvia Lisboa
Atualizado em 14 mar 2024, 10h10 - Publicado em 19 ago 2022, 15h09

Texto Juan Ortiz e Sílvia Lisboa

Plantar árvores e recuperar florestas. Além de ser uma das soluções mais simples e baratas para combater o aquecimento global, isso também pode trazer outro benefício: gerar empregos. Segundo um estudo liderado por cientistas da Universidade de São Paulo, essa iniciativa poderia gerar 2,5 milhões de empregos, só no Brasil, até 2030. É bastante: seria o suficiente para reduzir em quase 25% a atual taxa de desemprego no país (10,1 milhões de pessoas, segundo o IBGE).

Publicado na revista científica People and Nature, o estudo chegou a esse número coletando dados com mais de 350 organizações que atuam em processos de restauração florestal no país. De acordo com o levantamento, que analisou projetos de reflorestamento executados em 2019, as entidades consultadas iniciaram a restauração de 19.426 hectares naquele ano – e criaram 8.223 postos de trabalho (desses, 57% eram temporários e 43% permanentes). Ou seja: o Brasil gera um emprego, em média, a cada 2,3 hectares restaurados (área equivalente a cerca de dois campos de futebol).

Isso significa que, se o país restaurar 12 milhões de hectares de floresta, como previsto no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), elaborado pelo governo federal em parceria com o World Resources Institute (WRI), seria possível criar 2,5 milhões de empregos até 2030.

Isso porque metade dessa restauração seria feita através do replantio de espécies nativas (nas demais áreas, a vegetação se recuperaria sozinha). Cerca de 76% das áreas recuperadas ficariam distribuídas na Amazônia e na Mata Atlântica, 17% no Cerrado e os 7% restantes na Caatinga, no Pampa e no Pantanal.

Por ora, tudo isso segue no mundo das ideias. Quando o Planaveg foi criado, em 2017, a projeção anual era que o Brasil entraria em uma curva ascendente de preservação ambiental, recuperando milhões de hectares de vegetação a cada ano – a meta do plano era restaurar pelo menos 1 milhão de hectares de mata nativa até o fim de 2022.

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Mas o país andou na direção contrária. Hoje o Brasil derruba mais árvores do que consegue plantar. Muito mais. Em 2021, o país bateu o recorde de desmatamento da última década e arrasou mais de 1 milhão de hectares de floresta. Até o início do ano passado, menos de 70 mil hectares haviam sido restaurados.

O avanço constante na destruição da Amazônia tem ocorrido junto com o desmonte de órgãos de proteção ambiental e ataques a indígenas, ambientalistas e defensores dos direitos humanos.

Cientistas apontam que interromper o desmatamento e plantar árvores são medidas cruciais para frear o aquecimento global, porque as florestas funcionam como grandes filtros de ar: elas absorvem CO2, oriundo principalmente da queima de combustíveis fósseis, e devolvem oxigênio para a atmosfera. “Recuperar as partes desmatadas das florestas é essencial para dar algum respiro na questão das mudanças climáticas. Não há maneira mais barata e fácil para sequestrar carbono da atmosfera. Mas o Brasil está na pior posição possível nesse cenário”, alerta o físico Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

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O plano da ONU para as florestas

Em 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) também lançou um ambicioso plano global de recuperação das florestas. Ele prevê aumentar em até 3% a superfície florestal no mundo – ou 120 milhões de hectares, uma área equivalente ao Peru – até o final desta década.

Além de recuperar áreas desmatadas, o plano da ONU também prevê aumentar os benefícios econômicos, sociais e ambientais das florestas, inclusive para os povos que dependem delas; ampliar a área de florestas protegidas ou manejadas de forma sustentável; mobilizar mais recursos financeiros para o manejo sustentável e fortalecer a cooperação científica e técnica. Ele é bem ambicioso.

Mas não foi muito além do papel. Cada país ficou livre para fazer o que achava melhor para tratar do problema – e pouco foi feito até agora. “Enquanto não tivermos mecanismos para obrigar os países a cumprirem seus compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa, vai ser impossível fazer valer essas políticas”, avalia Artaxo.

Mesmo sem ser obrigatório, o plano da ONU acabou servindo para acelerar projetos de plantação de árvores mundo afora. Um estudo da Universidade Yale publicado no ano passado revelou que o número de iniciativas de reflorestamento nos trópicos cresceu quase 300% desde 1990, especialmente lideradas por ONGs.

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Hoje são mais de 170 delas espalhadas pelo mundo. Muitas estão no Brasil, que é citado na pesquisa como um dos países mais promissores para o reflorestamento. No ano passado, a primatologista britânica Jane Goodall, a cientista que inspirou o filme “Na Montanha dos Gorilas”, se aliou a um plano global de plantar 1 trilhão de árvores dentro de uma década. A iniciativa Trees for Jane se juntou à Trillion Tree Campaign, que reúne esforços de restauração pelo mundo.

Enquanto isso, a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, pode estar cada vez mais perto de um ponto de não retorno. Com um cenário de desmatamento acelerado, a preocupação dos cientistas é que a Amazônia possa sofrer um processo de “savanização”, perdendo parte importante de sua cobertura vegetal e o papel que desempenha na regulação do clima no planeta.

Além de capturar grandes quantidades de CO2, a floresta ajuda a produzir os chamados “rios voadores”: fluxos de água na atmosfera, que distribuem chuvas em outras regiões e são vitais para a agricultura. Com o desmatamento da Amazônia, tende a chover menos em outros lugares, com secas prolongadas. A estiagem mais recente causou perdas estimadas em R$ 45 bilhões nos estados do Sul e do Centro-Oeste.

Na Europa, mais de mil pessoas morreram com as ondas de calor e os incêndios florestais neste verão, o mais quente em décadas. Os EUA também sofreram com secas de proporções inéditas. O clima do planeta tem dado cada vez mais sinais de alerta.

Não há soluções mágicas para evitar uma catástrofe climática, e isso inclui a recuperação das florestas – pois as árvores levam anos até crescer e começar a capturar CO2 em grande quantidade. O reflorestamento não pode desviar os esforços do foco principal, que é a redução no uso de combustíveis fósseis. Enquanto a queima de petróleo e o carvão não se tornar algo do passado, não haverá árvores suficientes para conter o aquecimento do planeta.

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