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A humanidade sobreviveu a um “apocalipse” há 74 mil anos

Detritos da maior erupção vulcânica em 2 milhões de anos teriam quase extinguido a humanidade. Mas uma análise recente diz que lidamos bem com a tragédia.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 abr 2020, 14h04 - Publicado em 12 mar 2018, 17h49
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  • A pior erupção vulcânica dos últimos 2 milhões de anos é razoavelmente recente: ocorreu onde hoje fica o lago de Toba, no território da Indonésia, há 74 mil anos. Nessa época, o Homo sapiens não só já existia em sua forma contemporânea como já havia saído da África e se espalhado pela Ásia. Faltava pouco para nossa espécie deixar suas primeiras manifestações artísticas nas paredes de cavernas.   

    A erupção do Toba liberou 100 vezes mais detritos que a do Tambora, também na Indonésia, que aconteceu em 1815 e é a maior da história registrada. Para fins de comparação, o Tambora lançou na atmosfera material suficiente para bloquear a luz solar e causar um ano inteiro de inverno fora de época no hemisfério norte.

    Sua explosão foi ouvida a 2,6 mil quilômetros de distância – de São Paulo a Manaus –, e as cinzas caíram em um raio de 1,3 mil quilômetro – de São Paulo a Salvador. Mesmo assim, ele foi um soluço perto do Toba. É difícil imaginar o impacto que teve um vulcão muito mais forte (repetindo: 100 vezes mais forte) em uma época em que o Homo sapiens não tinha tecnologia para lidar com catástrofes naturais.

    Em 1998, o antropólogo americano Stanley Ambrose deu um bom chute: o Toba teria nos levado à beira da extinção. O inverno de uma década que suas cinzas geraram teria sido suficiente para reduzir a população humana total a 10 mil indivíduos ou menos – e essa redução brusca na variedade genética seria perceptível até hoje em nosso DNA.

    Não é uma hipótese ruim: sabe-se que o sul da Ásia ficou coberto por uma camada de cinza de 15 centímetros, o que aniquilou a vegetação e gerou um grande desequilíbrio na cadeia alimentar. Nada bom para tribos nômades caçadoras-coletoras.

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    Acontece que essa hipótese não é consenso. Outros cientistas afirmam que as alterações climáticas geradas pelo Toba não foram duradouras nem globais, e que seu impacto no desenvolvimento do Homo sapiens foi irrisório. “Essa é uma hipótese dramática”, afirmou ao New York Times o arqueólogo Michael Petraglia, do Instituto Max Plank. “Ela foi popular tanto no mundo científico quanto na imaginação do público, mas nós não estamos vendo motivo para se descabelar [nos estudos mais recentes].”

    Um artigo científico publicado na Nature vai por aí: afirma que a erupção do Toba teria sido um evento pouco preocupante para o Homo sapiens pré-histórico. Observando o registro geológico, a equipe do geólogo americano Eugene Smith percebeu que o número de indícios de presença humana – como fósseis e fogueiras – se mantém estável na camada de solo que está depositada imediatamente acima dos detritos do vulcão.

    É importante notar que o estudo foi feito na África do Sul, e não na Indonésia (sim, os detritos chegaram do outro lado do Índico). Ninguém discute que os seres humanos que estavam de bobeira nas redondezas do Toba foram aniquilados pela tragédia. A discussão é outra: se o impacto do vulcão em longo prazo, na Terra como um todo, teria sido suficiente para quebrar as pernas da nossa espécie. A resposta, aparentemente, é “não”.

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    “Muitos estudos anteriores tentaram testar a hipótese de que o Toba devastou as populações humanas”, afirmou em comunicado o antropólogo Curtis Marean, envolvido no estudo. “Eles falharam porque não conseguiram ligar evidências de ocupação ao momento exato do evento.”

    É claro que essa não é a palavra final sobre o assunto. Os pesquisadores admitem que a erupção afetou ecossistemas diferentes de maneira diferentes. É provável que os Homo sapiens da África do Sul tenham dado sorte, mas que essa não fosse a regra. O jeito, agora, é buscar pelos rastros do Toba no solo de outros lugares – e ver como nós reagimos ao baque em diferentes partes do mundo. 

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