Wilson Weigl
Foi preciso o faro jornalístico do diário americano The New York Times, provavelmente o melhor jornal do mundo, para que o mundo inteiro conhecesse a revolução que silenciosamente ocorreu no Nordeste brasileiro: a decadência do jegue. A publicação americana deslocou um repórter até a cidade de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, para ver de perto o fenômeno, e estampou em suas prestigiosas páginas: “Coitado do jegue, o animal que virou carga”.
Após séculos de serviços prestados, o animal símbolo do Nordeste foi trocado por tratores e jipes como força motriz e meio de transporte. Abandonados pelos donos, os bichos viraram uma praga e já foram banidos de algumas cidades. Guamaré contratou guardas para impedir que eles comam a grama das praças. A prefeitura de Currais Novos foi ainda mais longe e, para impedir o fluxo dos visitantes indesejados, recrutou um “apanhador de jegues” oficial, Francisco de Assis Amaral. Ele laça, toda semana, uma dúzia de animais que, se não reclamados pelos donos, são vendidos nas cidades vizinhas. Com isso, a oferta cresceu e o índice “Dow Jegue” despencou a ponto de – suprema humilhação – o quadrúpede custar menos que uma galinha.
O presidente da associação dos criadores local (que, em inglês, ficou muito sofisticada: Donkey Breeders Association of the Northeast), Fernando Viana Nobre, saiu em defesa dos animais, argumentando que, além de dispensarem combustível e peças de reposição, eles evitam dívidas com os bancos – um dos maiores problemas dos proprietários rurais brasileiros. Fernando também alimenta a esperança de que, com a atual crise de energia, o jegue dê sua “volta por cima” e recupere o antigo status.