Apesar da rotina dentro da caixa de vidro ser um tédio só para todo mundo, cada peixe lida com os problemas do confinamento da sua própria maneira. Pelo menos, é o que indica um novo estudo da Universidade de Exeter, na Inglaterra. Os resultados sugerem que esses bichos, mesmo quando idênticos na aparência, possuem personalidades surpreendentemente complexas – e também sentem medo de forma diferente.
“Ao serem colocados em um ambiente a que não estavam acostumados, os peixinhos mostraram ter várias estratégias diferentes para lidar com momentos de estresse. Enquanto alguns tentaram se esconder, outros deram um jeito de escapar ou encararam a situação”, explicou Tom Houslay, em comunicado.
O comportamento apareceu durante experimentos com 105 lebistes (Poecilia reticulata), peixes bastante utilizados para fins ornamentais e conhecidos aqui no Brasil também como guppys ou barrigudinhos. Para monitorar cada um deles, os pesquisadores injetaram polímeros coloridos debaixo de suas escamas. Isso facilitou que eles fossem acompanhados e filmados dia e noite, durante o período de testes.
Os testes, basicamente, consistiam em estressar deliberadamente os moradores do aquário, a cada três dias, durante quatro semanas. Essas situações envolviam expor os peixinhos a possíveis predadores, como uma garça de mentira, controlada com a ajuda de polias – a quem os cientistas deram o nome de “Grim”. Outro recurso foi colocar rente ao vidro um peixe grandalhão da classe dos Ciclídeos (que ganhou o nome de “Big Al”), só para botar medo nas cobaias menores.
As reações, segundo Houslay contou ao Washington Post, foram as mais diferentes. Fugir para as colinas, fingir-se de morto para passar despercebido ou nadar loucamente para cima e para baixo, tentando escapar do campo de visão do inimigo. Medindo o tempo que cada um permanecia escondido, ou por quanto tempo ficavam paralisados em frente às ameaças, os pesquisadores conseguiram determinar quem do grupo estava entre os mais destemidos e quais dos peixinhos eram os mais covardes.
A ideia do grupo, agora, é entender se esses traços também tem relação genética – ou se dependem mais do ambiente em que os peixes vivem. Para isso, os cientistas estão cruzando indivíduos que participaram dos testes, para ter toda uma nova safra de lebistes corajosos e medrosos para investigar a personalidade. Filho de peixe, peixinho é? Bom, não necessariamente.
O estudo foi publicado no jornal Functional Ecology.