A nova década já começou batendo recordes – mas isso não é um bom sinal. No dia 9 de fevereiro de 2020, a Antártica atingiu a maior temperatura já registrada na história do continente. Os pinguins estavam aproveitando o verão à 20,75 graus Celsius – o suficiente para sair de camiseta em pleno Polo Sul.
O valor foi reportado por uma base de pesquisa argentina (o Brasil, é bom lembrar, também tem uma base na Antártida funcionando a todo vapor). Apenas três dias antes, o continente havia batido o mesmo recorde ao bater 18,3°C.
Esse é só mais um dos extremos climáticos que têm preenchido as notícias ultimamente. Confira abaixo outros recordes e situações relacionadas às mudanças climáticas que estão bem longe do ideal.
Verões escaldantes
A década de 2010 foi a mais quente da história, mas a de 2020 tem potencial para superar essa marca. O mês passado foi considerado o janeiro mais quente dos últimos 140 anos.
Não é preciso ir para a Antártida para sentir o aumento das temperaturas. A Europa registrou seu verão mais quente em 2019. Países como o Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo tiveram os dias mais quentes da história, com temperaturas ultrapassando os 40°C.
No Hemisfério Sul não foi diferente. 35 localidades bateram recordes de temperatura no primeiro mês de 2019. Dentre elas, 29 estavam na Austrália – foi o ano mais quente da história do país, com 1,5°C acima da média.
Oceanos fervendo
Além de bater recordes de calor no continente, 2019 também foi o ano em que os oceanos atingiram a maior temperatura que se tem registro. Esse foi o maior aumento de temperatura em apenas um ano que se teve na última década.
Oceanos mais quentes intensificam o derretimento de geleiras, o que é sinônimo de inundações e aumento do nível do mar. Nos últimos dez anos, os oceanos apresentaram o maior nível de água desde 1900, quando começaram os registros. Estima-se que o nível aumente mais um metro até o final do século. Parece pouco, mas esse aumento pode desalojar mais de 150 milhões de pessoas ao redor do mundo – dentre elas, moradores de ilhas como Tuvalu, na Oceania, ou das Bahamas, no Caribe.
“Quando os oceanos aquecem, eles mudam a maneira com que a água evapora e precipita”, disse o professor John Abraham, que liderou a pesquisa, ao jornal The Guardian. As áreas secas ficam ainda mais secas, as úmidas ficam ainda mais úmidas e a chuva cai de uma vez só, em grandes temporais.”
Chove, chuva…
O alagamento histórico de São Paulo no dia 10 de fevereiro foi resultado do maior volume de chuva na capital para o mês desde 1985. O outro recordista desta categoria também não está longe: o maior volume de água acumulada durante 24 horas em São Paulo aconteceu em julho de 2019.
Por mais distantes que pareçam, as chuvas do Brasil podem estar relacionadas ao calor da Antártida. Segundo o climatólogo Francisco Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tanto as chuvas quanto o recorde de temperatura podem ser resultado da movimentação das massas de ar do Hemisfério Sul. O pesquisador registrou uma anomalia nos ventos no final de janeiro, que fez com que a massa de ar quente do continente viajasse até a Península Antártica. Ao mesmo tempo, a massa de ar fria de lá veio para o Sudeste brasileiro, causando tempestades desastrosas, como foi o caso de São Paulo e Belo Horizonte.
A capital mineira também bateu recordes em 2020. Em janeiro, a cidade registrou o maior volume de chuva contínua em 24 horas. O estrago de tanta água foi grave: 55 mortes, 45.284 desalojados e 8.297 desabrigados em todo o estado.
Gelo derretendo
O derretimento do gelo é normal, mas a rapidez com que isso vem acontecendo é preocupante. Um estudo de 2019 revelou que as geleiras do Alasca estão derretendo 100 vezes mais rápido do que os cientistas previam. Nesse mesmo ano, a Groenlândia registrou o maior derretimento em um único dia: 12 bilhões de toneladas de gelo.
O mesmo ocorre no extremo sul do planeta. Em 2017, o maior iceberg do mundo se desprendeu do continente antártico. Ele tem nada menos que 6.000 km² – quatro vezes a cidade de São Paulo. Agora, em 2020, o trambolho está prestes a entrar em mar aberto.
Nem o Everest ficou de fora. Além de estar revelando cadáveres de alpinistas, o derretimento do gelo fez com que vegetação começasse a crescer na montanha. Não por acaso: o derretimento na região dobrou desde os anos 2000. A previsão é que um terço de todo o gelo da cordilheira desapareça ainda neste século.