Você provavelmente nunca ouviu falar dela, mas a RuBisCO (abreviatura de ribulose-1,5-bisfosfato carboxilase oxigenase) é a enzima mais abundante – e importante – da Terra. As plantas a utilizam para capturar o gás carbônico (CO2) durante a fotossíntese, produzindo glicose e liberando oxigênio (O2). Assim, transformam a luz do Sol em energia. Mas a RuBisCO tem um problema: em 20% das vezes, ela pega uma molécula de O2 por engano. As plantas então contornam o problema realizando um processo muito mais difícil, a “fotorrespiração”, o que reduz em até 50% a eficiência da fotossíntese. Por isso elas crescem menos, e mais devagar, do que poderiam.
Mas um grupo de cientistas americanos descobriu como melhorar a fotossíntese – com uma técnica que poderia elevar drasticamente a produção de alimentos no mundo. “Só no meio-oeste dos EUA, poderíamos alimentar 200 milhões de pessoas a mais por ano”, afirma o biólogo Donald Ort, da Universidade de Illinois. A fotorrespiração consome muita energia porque segue uma rota longa nas células da planta. Usando a engenharia genética, Ort e sua equipe criaram plantas1 com um “atalho” metabólico, que acelera esse processo e diminui a perda de energia.
Nos primeiros testes, feitos com tabaco, eles criaram plantas 40% maiores. Mas calma: a ideia não é produzir mais cigarro. “Escolhemos o tabaco porque ele é fácil de alterar geneticamente, robusto e gera muitas sementes. Com isso, avançamos mais rápido do que se tivéssemos começado os testes com um alimento”, explica Ort. Agora, ele está inserindo a modificação genética na soja, no feijão-fradinho e na batata, e depois pretende testá-la no trigo e no arroz. Em tese, a mudança pode ser aplicada a 90% das plantas (que possuem uma via metabólica chamada C3). Se der certo, poderá ser a resposta para alimentar a população global – que deverá, segundo a ONU, chegar a 9,8 bilhões de pessoas em 2050.
1. Synthetic glycolate metabolism pathways stimulate crop growth and productivity in the field. Donald Ort e outros, 2019.