Se Matt Damon se perdesse em Marte na vida real, teria que se preocupar mais com a sua circulação e menos com plantações de batatas. Um grupo de pesquisadores descobriu que sair de órbita aumenta em 5 vezes a chance de ter problemas cardiovasculares – e isso pode ser um empecilho para missões futuras ao Planeta Vermelho.
Quem participa de uma viagem ao espaço se torna um experimento científico ambulante. A ciência ainda não entende completamente como o corpo reage ao ficar longe da Terra – mas os astronautas que participaram das missões Apollo nos anos 60 e 70 estão ajudando pesquisadores a entender melhor os efeitos do espaço na saúde.
O estudo comparou informações sobre a saúde de três grupos de astronautas diferentes: aqueles que nunca saíram da Terra, os que fizeram missões bem próximas do planeta e, finalmente, as equipes do programa espacial que chegou à Lua pela primeira vez.
LEIA: 7 bizarrices que acontecem com o corpo no espaço
De sete dos exploradores espaciais que já faleceram, três morreram por problemas cardíacos, como infartos ou derrames, uma frequência muito maior do que a encontrada em astronautas que nunca viajaram para tão longe no espaço. Mas a amostra do estudo é pequena, porque, afinal, não existe uma grande quantidade de pessoas que já estiveram a mais de 200 mil km do planeta.
Para turbinar a pesquisa, os cientistas da Universidade Estadual da Flórida decidiram expôr ratinhos a condições parecidas com as que os astronautas encontram no espaço. Em laboratório, simularam a falta de gravidade e a radiação de íons de ferro e observaram os animais.
O experimento confirmou o que a saúde dos astronautas já indicava: ficar muito tempo no espaço prejudica as células do endotélio, a camada interna dos vasos sanguíneos. As paredes dos vasos vão ficando estreitas, prejudicando o fluxo sanguíneo e aumentando o risco de infartos e derrames.
Um astronauta que se aventura pelo espaço abre mão da proteção do campo eletromagnético da Terra. Com isso, vira alvo de partículas de radiação muito maiores do que o nosso corpo está acostumado. O tipo de radiação mais comum no espaço vem de prótons, mas partículas pesadas como íons de ferro são as mais prejudiciais – capazes, inclusive, de afetar as moléculas de DNA no corpo, o que, além de prejudicar o sistema cardiovascular, ainda aumenta os riscos de desenvolver câncer.
LEIA: Empresa privada anuncia viagem a Marte em 2018
O próximo desafio das agências espaciais é enviar o homem a Marte pela primeira vez. O que preocupa os cientistas é que o risco aumentado de problemas cardíacos já aparece em missões espaciais relativamente curtas. Os astronautas estudados somaram só 15 dias passados em espaço profundo, desprotegidos da radiação espacial. Chegar até Marte exigiria muito mais tempo. Os cientistas não estão certos de como o corpo humano reagiria a tanta radiação assim – por enquanto, é melhor adiar as plantações de batatas marcianas.