Você se sacrificaria para salvar um parente? As bactérias sim.
Esses microrganismos revelaram ter um instinto altruísta quando suas colônias estão correndo risco. Foi o que pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, observaram de perto ao montar um verdadeiro campo de batalha de micróbios. O que assistiram foi uma estratégia de jogo tão boa quanto aquelas que costumamos montar em jogos de tower defense – como o Clash Royale.
Os guerreiros que estrelaram o experimento, discutido neste estudo científico, pertenciam a uma linhagem da bactéria E. coli modificada pelos cientistas. Esse tipo de bactéria tem uma característica peculiar: se autodestrói na presença de toxinas liberadas por adversários. É como se elas fossem aqueles heróis que preferem o suicídio à morrer pelas mãos do inimigo.
Com tudo pronto, o grupo de bactérias foi colocado lado a lado de suas rivais. Elas eram também bactérias E. coli, mas de linhagem diferente – e não modificadas pelos cientistas.
Aí foi só assistir à batalha pelas lentes do microscópio. Só que em vez de tiros e bombas, as armas usadas eram toxinas expelidas pelas próprias bactérias. Quando ativavam o modo autodestruição, ficavam verdes. Uma vez destruídas, as bactérias adquiriam a coloração rosa.
Primeiro, os dois times montaram linhas de batalha. As E. coli não modificadas começaram atacando suas rivais, matando rapidamente a linha de frente da adversária. Mas aquelas que estavam logo atrás e foram menos atingidas se ligaram do perigo e começaram a se preparar para a autodestruição.
Elas aproveitaram esse momento estratégico para acumular suas próprias toxinas. Isso mesmo: em vez de usá-las para destruir as rivais, juntavam munição. Assim, conseguiam funcionar como bactérias bombas. E, quando explodiam, jogavam toxinas ainda mais potentes nos adversários, possibilitando a sobrevivência de uma parte maior da colônia.
Esse instinto altruísta das bactérias vai contra a regra, já que na natureza deve-se viver cada um por si para sustentar a evolução natural. Afinal, biologicamente falando, ninguém pode se reproduzir (e passar seu material genético à frente) por você.
Por outro lado, essas bactérias vivem em colônias de clones idênticos. Então, “quando se matam, é como se eles estivessem ajudando seus próprios genes, porque eles dão a seus companheiros clones que têm os mesmos genes uma chance maior de sobreviver”, explicou a pesquisadora Elisa Granato a NewScientist. Uma história tão digna de filme quanto a trajetória de Leônidas e seus “300 de Esparta”.