Os crustáceos – animais como siri, caranguejo e camarão – possuem “dentes” no estômago. Parece estranho? É que a digestão deles é bem diferente daquela dos mamíferos vertebrados, com a qual estamos acostumados. Eles não iniciam o processo digestivo na boca. Tudo é feito no estômago mesmo, e esses dentes calcificados servem para triturar os alimentos lá.
Bem, agora que já revisamos aquela biologia básica do ensino médio, podemos ir direto para a notícia que te interessa, leitor da SUPER. Biólogos do Scripps Institution of Oceanography, na Califórnia, constataram que, para alguns caranguejos, esses dentes servem para outra coisa além dessa mastigação esquisita: rosnar. Os bichos rosnam com o estômago.
O caranguejo-fantasma (Ocypode quadrata, também chamado de maria-farinha no Brasil) já não tinha fama de bicho silencioso. Ao fazer digestão, é audível o som dos seus dentes quebrando os alimentos.
O que os pesquisadores não esperavam era ouvir esse som quando o bicho estivesse em perigo, sem estar digerindo coisa nenhuma.
(In)felizmente, o rosnado que eles escutaram não tinha nada a ver com o barulho que um cachorro costuma fazer. No caso do caranguejo, quando outro animal se aproxima demais, o bicho fica com as garras levantadas, na posição vertical, e produz um som áspero – que é alto o suficiente para ser ouvido sem qualquer tipo de aparelho especial. (Aliás, uma digressão: se estivéssemos falando de visão, diríamos que é um fenômeno visível a olho nu. Seria o som do caranguejo audível por orelha nua?)
Voltando à pesquisa, para analisar melhor o tal urro do crustráceo – e descobrir se ele vinha mesmo do estômago – os cientistas eles pediram auxilio de uma equipe médica do Hillcrest Medical Center, e levaram uma caixa de marias-farinha até uma máquina de raios-X.
O objetivo da empreitada era radiografar os bichos na hora em que eles estivessem “rosnando” para “inimigos” controlados pelos pesquisadores – como caranguejos de brinquedo e até um pequeno robô.
Não deu outra: os vídeos comprovaram a hipótese dos pesquisadores. Os sons ásperos eram provocados pelo movimento dos dentes do estômago. No tweet abaixo, você consegue enxergar a agitação por si mesmo:
As descobertas foram publicadas no periódico Proceedings of the Royal Society B. Uma das responsáveis pelo estudo, Jennifer Taylor, suspeita que esses animais também possam usar os ruídos estomacais como meio de comunicação.