Carrapatos se tornaram o bichinho mais comentado do Brasil após um casal contrair febre maculosa em uma fazenda em Campinas (SP). Os dois morreram. Uma terceira morte suspeita, de uma mulher que foi ao mesmo local, está sendo investigada.
A doença é transmitida pelo carrapato-estrela, de nome científico Amblyomma cajennense, um aracnídeo que se aloja na pelagem das brasileiríssimas capivaras. E é exatamente por isso que você precisa conter o impulso e não agarrar esses bichões aquáticos. Leia mais sobre precauções e cuidados neste texto da Super.
(Nota: não é uma boa ideia abraçar ou acariciar nenhum animal silvestre, tampouco se aproximar excessivamente deles ou estressá-los de qualquer outra forma. Observe de longe e com respeito. O Ibama agradece.)
Carrapatos transmitem muitas outras doenças perigosas, como a de Lyme. Vamos aproveitar os quinze minutos de fama deles para enfileirar algumas curiosidades sobre eles que, normalmente, não chamariam atenção alguma. A começar pela taxonomia: esses artrópodes não são insetos, e sim aracnídeos, como as aranhas e escorpiões. Ou seja, têm oito patas em vez de seis.
Calma que melhora: “carrapato” nada mais é do que o nome genérico que damos a um grupo ácaros extra grandes – os maiores podem atingir 3 cm quando estão lotados de sangue. Existem 48,2 mil espécies de ácaros já descritas em periódicos científicos, e a maioria tem algo entre 0,25 milímetro (mm) e 0,75 mm. Alguns são até menores, mal visíveis a olho nu.
Estima-se que haja no mínimo meio milhão ainda por descrever: não é incomum encontrar uma espécie inédita em um inocente travesseiro.
Os ácaros se dividem em dois grandes grupos, os acariformes e os parasitiformes. Dentre os parasitiformes, existem um ordem chamada Ixodida. Esses são os carrapatos. Eles vêm, grosso modo, em dois tipos: os de corpo mole e os de carcaça crocante. Os moles têm a boca na barriga. Já os duros tem a pança blindada com uma casquinha de queratina, e a boca fica na frente.
Cabeça? Não, obrigado. Carrapatos não têm cabeça. Os carrapatos rígidos, com as queliceras frontais, até parecem ter uma cabeça, mas isso é uma ilusão: projetamos a nossa ideia de cabeça no aparato bucal deles, da mesma forma que vemos rostinhos em objetos que na verdade não estão sorrindo (a tal pareidolia).
Existem carrapatos sul-africanos do gênero Nuttalliella (não é Nutella) que não pertencem a nenhuma dessas duas categorias e estão entre os representantes mais primitivos desse tipo de bichinho existentes hoje. Falando em primitivos, os fósseis mais antigos de carrapato conhecidos infectavam dinossauros há 100 milhões de anos. Eles estão preservados em âmbar.
É bom notar que a pena em que esse carrapato foi encontrado tem apenas meio centímetro de comprimento – não pertencia aos dinossauros de grande porte que povoam o imaginário infantil, mas a um animal mais próximo dos pássaros atuais, tanto em tamanho como em aparência. Esses dinos pocket, possivelmente os ancestrais de nossos beija-flores e rouxinóis, viviam em ninhos e cuidavam de seus ovos. O dono da pena em questão surgiu 25 milhões de anos antes dos primeiros pássaros.
Por fim: poderíamos chamar os carrapatos de cabeças ocas se tivessem cabeças, já que essas pestinhas também não têm cérebro. Elas têm algo chamado singânglio a título de sistema nervoso central, uma área de grande concentração de nervos que fica entre o primeiro e o segundo par de pernas e é atravessada pelo esôfago.
O que dá um novo significado à expressão “pensar com a barriga”.