A americana Laura Duvall, bioquímica da Rockefeller University, em Nova York, não tinha muita certeza do que ia acontecer quando deu inibidores de apetite humanos ao mosquito da dengue. Ela sabia que as fêmeas de Aedes aegypti picam e usam as proteínas do sangue da picada para produzir seus ovos. Duvall também sabia que, no período seguinte à ingestão de sangue, as fêmeas paravam totalmente de picar, por maior que fosse a oferta de canelas em seu caminho. Era como se estivessem “de barriga cheia”. A grande pergunta é se essa descoberta pode, um dia, ajudar a controlar epidemias de doenças transmitidas pelo mosquito, como zika, dengue, chikungunya e febre amarela.
Como se “medica” um mosquito?
Usando um alimentador artificial, feito com uma membrana que imita a pele. Dentro dela, colocamos o inibidor de apetite, diluído em água com sal. Os mosquitos pousam ali e sugam, como numa picada normal.
Por que as drogas fizeram efeito nos mosquitos?
As redes neurais que regulam o apetite de humanos e mosquitos é surpreendentemente parecida. O que descobrimos é que existe um receptor específico nessa via que, se manipulado, faz mosquitos que acabaram de picar continuarem sugando sangue loucamente – e bloqueia o comportamento de picada mesmo que eles estejam “de barriga vazia”.
Daria para usar uma tática parecida para inibir epidemias de vírus transmitidos pelo Aedes?
Nós criamos um composto, adaptado dos inibidores humanos, que funciona só em mosquitos. Mas precisamos torná-lo mais barato e mais potente se quisermos que ele seja usado por alguém que, por exemplo, pendure uma das nossas membranas no quintal e deixe-a lá, atraindo e neutralizando seus mosquitos. Hoje, porém, o efeito de supressão do apetite dura apenas três dias.