Uma nova pesquisa revelou que as colônias de pinguins-de-barbicha na Antártida estão rapidamente diminuindo de tamanho, chegando a reduzir em até 77% nas últimas cinco décadas. E o principal culpado desse fenômeno é, provavelmente, o aquecimento global.
Com mais de 7 milhões de representantes, os pinguins-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus) uma das espécies de pinguins mais abundante na Antártida (atrás apenas do pinguim-macaroni, que tem uma maior distribuição geográfica) e são conhecidos por suas enormes colônias. Somente na Ilha Zavodovski, um território britânico inabitado, mais de um milhão de casais podem ser encontrados. É bem mais que o imponente pinguim-imperador, por exemplo, que tem apenas 250.000 pares reprodutores estimados em todo o mundo. Mas os novos dados trazem preocupação sobre o futuro dessas populações aparentemente grandes.
Os resultados foram relatados por um grupo de pesquisadores independentes a bordo de uma expedição do Greenpeace a diversas ilhas do continente gelado, que são conhecidas por serem locais de procriação da espécie. Usando drones e equipamentos portáteis, os cientistas contaram os pares reprodutores de pinguins e compararam os dados obtidos com os resultados de outra expedição, feita há quase 50 anos. E a análise mostrou um resultado chocante: houve redução no total de animais em todas as colônias que estudaram.
Os números impressionam: em 1971, havia 122.550 “casais” de pinguins da espécie na Ilha Elefante, um dos principais destinos dos pinguins localizada no nordeste da Península Antártica; em 2020, esse número caiu para 52.786 pares – uma redução de 58%. Em uma colônia especifica, o número de pinguins chegou a cair 77%.
Os pesquisadores relataram que a redução também foi observada em outras ilhas próximas, mas o números detalhados de cada ilha ainda estão sendo processados e só serão publicados após o fim da expedição.
Pinguins-de-barbicha, também conhecidos como pinguins-de-face-manchada, habitam a Península Antártica e ilhas próximas, mas também podem ser avistados em outros locais austrais, como na Argentina e no Chile. Eles se alimentam de krill (pequenos crustáceos) e de pequenos peixes e possuem uma linha preta na região do pescoço que lembra uma fina barbicha. A espécie não está considerada sob risco pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) – e por isso os resultados chocaram ainda mais a equipe.
Embora o estudo não tenha procura os motivos exatos dessa redução, os indícios apontam que as mudanças climáticas exercem um papel importante. “Esses grandes declínios sugerem que o ecossistema do Oceano Antártico mudou fundamentalmente nos últimos 50 anos, e que os impactos dessa mudança estão afetando a teia alimentar de espécies como os pinguins-de-barbicha”, disse, em comunicado, Heather J. Lynch, professora de ecologia da Brook University (EUA) e uma das autoras da pesquisa.
Já se sabe que as águas oceânicas estão esquentando nas últimas décadas por conta do aquecimento global, e que isso se traduz em uma menor oferta de krill – essa é um dos prováveis motivos que pode ter levado à redução dramática. “Embora vários fatores possam ter um papel a desempenhar, todas as evidências que temos apontam para as mudanças climáticas como responsáveis pelas mudanças que estamos vendo”, completa Lynch.
O novo estudo vem a tona pouco tempo depois da Antártida ter atingido seu recorde de temperatura: uma base científica argentina registrou 18,3º C no continente, a maior medição da história.
Outros estudos já haviam estimado o impacto que as mudanças climáticas poderiam ter em populações de pinguins, mas este foi o primeiro que de fato contou e mostrou na prática a redução. Agora, o Greenpeace e outras instituições internacionais querem pressionar para que três áreas do Oceano Antártico conhecidas por abrigarem muitos pinguins sejam transformadas em santuários. A proposta será discutida em outubro na Comissão do Oceano Antártico (CCAMLR).