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Como a vida de Darwin pode inspirar a sua

"Minha mente parece ter se tornado uma espécie de máquina de extrair leis gerais a partir de grandes coleções de fatos"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 12 fev 2019, 19h39 - Publicado em 7 abr 2017, 19h52

Alguns talvez interpretassem o zelo de Darwin para com sua obra como um traço de perfeccionismo. Tudo bem, teve isso, e a qualidade de A Origem das Espécies como trabalho científico fala por si mesma. Mas o que mais salta aos olhos em Darwin é sua compreensão de qual era sua obrigação moral, como cientista e como pensador.

Muitas vezes somos levados a trabalhar com a famosa (e infame) lei do mínimo esforço, ou mesmo considerar razoável realizarmos nossas funções em prestações, dando uma pequena dose a cada dia. Normalmente isso acontece quando somos pressionados ou quando não nos realizamos plenamente com o que estamos fazendo.

Darwin era um apaixonado pelo naturalismo, de forma que não se poderia esperar menos que dedicação intensa à sua produção intelectual. Em compensação, não podemos dizer que ele não tenha lidado com pressões. Ele era pressionado pela esposa, pelos amigos cientistas e ainda sentia a opressão social de estar a ponto de apresentar ideias que poderiam ser percebidas como uma contestação às noções religiosas mais entranhadas na cultura ocidental do século 19.

Quando somos submetidos a esse tipo de pressão, muitas vezes refugamos. Não é raro desistirmos de alguma coisa por nos sentirmos pressionados – e isso vale para coisas tão díspares quanto empregos e relacionamentos amorosos. Mas Darwin soube transformar essa pressão numa necessidade suprema de fazer a melhor e mais completa apresentação da teoria da evolução pelo mecanismo da seleção natural. Seu livro, publicado em 1859, mantém um grau de atualidade poucas vezes visto na história da ciência. E ressalve-se que Darwin não tinha acesso a nenhum dos conhecimentos que temos hoje acerca da hereditariedade, da genética e da estrutura do DNA.

Qualquer descoberta que viesse depois dele poderia, em tese, incluir peças ao quebra-cabeça da vida que fizesse ruir a torre de marfim darwiniana. Mas não foi o que aconteceu. Ao adotar uma postura perfeccionista, o naturalista inglês se cercou de exemplos, observações e experimentos para fundamentar sua teoria. (Sim, experimentos! Darwin promovia, entre outras coisas, cruzamentos de pombos, para entender a transmissão de características nas gerações seguintes com uma precisão que não seria possível apenas com a observação da natureza. Ironicamente, 150 anos depois fundamentalistas religiosos ainda o acusam de não ter sustentação em evidências experimentais!)

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Ele sabia que sofreria muitas críticas e agressões, mas não estava tão preocupado com reações sociais quanto estava com possíveis falhas científicas no trabalho. Daí a obsessão que lhe custou 15 anos de aperfeiçoamento de suas ideias.

Ironicamente, Darwin também sofreu com a crise que muitos artistas têm com suas criações. Elas nunca estão realmente terminadas. Sempre há o que melhorar. O mais que se pode fazer, num determinado momento, é “abandoná-las”. No caso em questão, o evento que marcou a “desistência” foi a apresentação, por Alfred Russel Wallace, dos princípios básicos da evolução por seleção natural. A partir daí, ou Darwin publicava, ou abandonava a primazia.

Apesar de torturado pela frustração, o naturalista tinha um padrão de exigência tão alto que cogitou deixar Wallace levar o crédito. Foi convencido pelos amigos, que sabiam de sua primazia, de que deveria apresentar seu trabalho.

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E o resultado é uma das obras-primas da ciência.

O que a história nos conta é que a teoria da evolução por seleção natural seria formulada de qualquer modo, com ou sem Darwin. Era uma constatação inevitável diante dos fatos da natureza. Mas sem o cientista inglês, a ideia dificilmente ganharia o nível de sustentação e respeitabilidade que adquiriu de forma quase instantânea – talvez por isso mesmo tenha produzido reações ainda mais velozes e furiosas dos fundamentalistas religiosos.

Darwin nos ensina o valor de nos engajarmos de forma obstinada no que acreditamos – e também o preço que, por vezes, temos de pagar por isso. Claramente, vale a pena.

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