Uma das ideias mais mirabolantes da conquista espacial é a possibilidade de moldar a evolução de outros mundos para que se pareçam com o nosso e possam ser colonizados. Trata-se do processo que, no jargão técnico, é conhecido como terraformação. Mas será que é possível transformar tão radicalmente um outro planeta?
Bem, se você acredita no aquecimento global, é óbvio que a resposta é “sim”. Afinal de contas, com a emissão crescente de gases causadores do efeito estufa em nossa atmosfera, estamos inadvertidamente “venusformando” a Terra. (Vênus é um planeta cujo efeito estufa é tão intenso que a temperatura, seja dia, seja noite, fica na casa dos 450 graus Celsius.)
Dentre os mundos do sistema solar, o único que é suficientemente parecido com o nosso para sofrer um processo de terraformação é Marte. Suas principais diferenças com relação à Terra são a atmosfera muito tênue e, por causa disso, uma temperatura muito gélida para que a água seja mantida em estado líquido na superfície.
Como resolver a situação? Bem, segundo cientistas que estudam isso, o processo seria iniciado do mesmo modo que estamos “venusformando” a Terra, ou seja, teríamos de “poluir” a atmosfera marciana para que o efeito estufa aumentasse.
Pode parecer uma tarefa grande demais, mas a verdade é que talvez Marte precise apenas de um empurrãozinho na direção certa para fazer todo o serviço sozinho.
Para Chris McKay, cientista do Centro Ames de Pesquisa da Nasa (agência espacial americana), o segredo seria aquecer Marte apenas um pouquinho, mas o suficiente para que as calotas polares – cheias de gás carbônico congelado – passassem a evaporar. Uma vez iniciado esse processo, a introdução crescente do gás carbônico das calotas na atmosfera aumentaria sozinha o efeito estufa, que evaporaria mais carbono das calotas, e assim por diante, até que o estoque acabasse.
O pontapé inicial poderia ser dado pela introdução artificial de um poderoso gás-estufa, o perfluorocarbono. Ele poderia ser fabricado em Marte usando apenas produtos já presentes localmente.
A partir daí, se as contas dos cientistas estiverem certas sobre a quantidade de gás carbônico, em um século teríamos um planeta com uma atmosfera com o dobro da densidade da terrestre, e uma temperatura local oscilando entre 0 e 30 graus Celsius.
Esse aumento de temperatura teria outro efeito bastante desejável: derreter a água hoje escondida no subsolo marciano sob a forma de gelo. O resultado seria a criação de vários mares – e potencialmente oceanos, dependendo da quantidade de água disponível – na superfície do planeta vermelho.
Legal, temos água e uma temperatura amena. Mas ainda falta um bocado para que seres humanos e animais possam viver lá sem qualquer suporte artificial. Sem oxigênio, não tem negócio para nós. Em compensação, há plantas que podem viver com níveis bastante modestos de oxigênio, e bactérias que nem isso pediriam para fazer a vida nessa nova versão de Marte.
Passaríamos então a uma nova etapa do processo de terraformação: a criação de uma biosfera.
Seleção artificial
As primeiras bactérias que transplantaríamos para o planeta vizinho seriam geneticamente escolhidas para metabolizar todo aquele gás carbônico e produzir em troca oxigênio – a boa e velha fotossíntese. Depois delas, viriam as plantas.
Caso a eficiência da nova biosfera seja tão grande quanto a que veio “de fábrica” com a Terra, em cerca de 100 mil anos Marte terá oxigênio suficiente para sustentar seres humanos e outros animais de grande porte em sua superfície. Pode parecer tempo demais, mas estamos falando de um grande processo de engenharia planetária: um dos legados mais positivos da humanidade poderá ser o de espalhar a vida pelo sistema solar!