O Brasil já é um dos novos epicentros da pandemia de Covid-19: além de ser o terceiro país com mais casos em números totais, também registrou a triste marca de 1.179 novos óbitos em apenas 24 horas. Não é o único motivo que temos para lamentar. O país também é o líder em morte de enfermeiros em todo o mundo, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Até o dia 19 de maio, o Brasil tinha 15.620 casos de Covid-19 confirmados ou suspeitos entre profissionais da área. Entram na lista entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, totalizando 107 mortes confirmadas (o número sobe para 133 com as suspeitas). Os Estados Unidos, país com mais casos em todo o mundo, contam com pelo menos 91 mortes desses profissionais, segundo rastreamento independente da associação National Nurses United. Na Itália, o primeiro grande epicentro da crise no Ocidente, levantamentos estimam que foram pouco mais de 30 mortes.
Em todo o mundo, Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) contabiliza pelo menos 360 mortes de profissionais da área no dia 18 de maio. Isso significa que só o Brasil corresponderia a quase um terço do número global. Mas a ICN alerta que seus números são altamente subestimados devido a falta de dados de diversos países, e chega a falar em “milhares” de mortes pelo mundo. No Brasil, também teme-se a subnotificação, seja por falta de testes ou por dados incompletos.
Por aqui, os casos reportados se concentram em São Paulo (3.588), Rio de Janeiro (3.204) e Bahia (1.381). A maioria dos casos (12.806) são de enfermeiras do sexo feminino, e quase metade é de profissionais na faixa dos 31 aos 40 anos. A letalidade registrada entre enfermeiros até agora é de 2,2%. Vale lembrar que mesmo os casos suspeitos com sintomas leves resultam no afastamento do profissional, obviamente, o que representa a perda de mais um na linha de frente da batalha contra a doença.
Apesar de estarem em contato direto com pessoas doentes, não é esperado que muitos enfermeiros (nem qualquer outro profissional de saúde) fiquem doentes, exatamente porque eles devem seguir protocolos de proteção e higiene para se manterem na batalha contra o vírus. Mas muitos profissionais, instituições de saúde e associações vem denunciando a falta de condições básica para trabalhar em todo o Brasil, que vão desde a falta de recursos básicos até ataques em público. Não à toa, diversas cidades no Brasil já registraram protestos de enfermeiros e outros profissionais de saúde por respeito e melhores condições de trabalho.
“Esta situação gravíssima reflete a escassez de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), treinamento adequado das equipes, profissionais de grupos de risco mantidos na linha de frente do atendimento, subdimensionamento das equipes, dentre outros fatores. Não somos máquinas”, afirmou em nota o presidente do Cofen, Manoel Neri.