Alexandre Versignassi
A gasolina seria bem mais barata. Isaac Newton ensinou que uma gravidade dessas só existiria por aqui se o planeta engordasse exatamente 15,6 vezes. Ao engordar, a Terra levaria de bônus sextilhões de toneladas em areia, mar, ouro e (por que não?) petróleo. Imagine viver em um mundo onde ir ao posto encher o tanque do seu carro deixaria de ser o suplício que tem sido atualmente, por causa dos aumentos constantes no preço do combustível. Legal? Seria, não fosse por um probleminha básico: a gravidade de Júpiter é 2,5 vezes maior que a nossa. O suficiente para causar mais destruição ao nosso planeta que qualquer guerra nuclear. Com uma gravidade tão grande, nossos prédios e pontes não agüentariam muito tempo. Nossos corpos, então, agüentariam por muito menos.
Ficar nesse ambiente de hipergravidade seria tão saudável quanto passar o resto da vida num carrinho de montanha russa, sofrendo aquela aceleração toda ininterruptamente. Mais hora, menos hora, o seu corpo pediria arrego: o mais provável é que nossos tecidos se deformariam, nosso cérebro receberia cada vez menos sangue até deixar de funcionar e teríamos hemorragias internas por todo lado.
É que todas as coisas vivas que a gente conhece foram moldadas para funcionar sob uma gravidade nem mais nem menos forte que essa que prende sua bunda no sofá. Não se discute com bilhões de anos de evolução. Tanto que é impossível dizer se formas complexas como você, um ornitorrinco ou uma ameba sequer teriam aparecido numa Terra de gravidade jupiteriana. E não é só por causa dos problemas fisiológicos.
“Para começar, dificilmente choveria num mundo desses”, diz o meteorologista Fábio Gonçalves, da USP. O aumento da gravidade achataria a atmosfera, deixando-a 2,5 vezes mais curta. Assim, as nuvens não teriam espaço para crescer a ponto de formar chuva. Pelo menos não na quantidade em que chove hoje. Sem tanta água, é provável que os continentes se transformassem em um desertão.
“O ar ficaria bem rarefeito nos locais acima do nível do mar”, explica o geofísico Lon Hood, da Universidade do Arizona. Uma cidade como La Paz, na Bolívia, a 3 660 metros de altitude, seria um lugar tão frio e sem oxigênio quanto o topo do Everest, a 8 848 metros, onde até um alpinista equipado só sobrevive por algumas horas. No fim das contas, talvez seja melhor pagar mais pela gasolina.
Problemas em dobro
Gravidade jupiteriana traria transtornos para seres humanos
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
A gente moraria em um planetão. Quanto maior a gravidade, maior é a massa. Para que a Terra tivesse a mesma gravidade de Júpiter, sua massa teria de aumentar 15,6 vezes – passando de 6 sextilhões de toneladas para 90 sextilhões. Isso deixaria a circunferência do planeta 2,5 vezes maior que a de hoje. A de Júpiter, para comparar, é 11 vezes maior que a nossa. Mas a Terra não precisaria crescer tanto porque é mais densa: tem bem mais massa “por metro quadrado” que o planeta gasoso
53º SALÁRIO
Os anos teriam 52 meses com sete dias cada um. É que a gravidade extra aceleraria a Lua. O satélite iria girar quatro vezes mais rápido, completando uma volta a cada sete dias. Como a idéia de “mês” é baseada no tempo entre duas luas novas, ficaria instituído que um ano tem 52 meses
ALPINISMO ESPACIAL
Para quem gosta de cachecol, seria uma beleza. São Paulo, por exemplo, seria 13 OC mais gelada, em média. Já as montanhas com mais de 5 mil metros ficariam na estratosfera, onde a temperatura pára de diminuir com a altitude. Para chegar ao topo do Everest, que estaria em plena camada de ozônio, sob uma temperatura de -60 OC, só com roupa de astronauta
RESSACA MALFADADA
Acordar nesse mundo depois de uma bebedeira seria o caos: quase não haveria água doce! A gravidade dobrada encolheria a atmosfera, deixando pouco espaço para a formação de nuvens grandes. As fontes de água doce seriam nevoeiros, frutos da evaporação da água do mar. Bichos terrestres, como você, precisariam de um organismo capaz de matar a sede com água salgada