Os fungos são gigantes invisíveis da natureza.
A maioria das pessoas só repara neles quando vem champignon na pizza. Mas os biólogos já identificaram cerca de 120 mil espécies de fungos, e estimam que existam 3,3 milhões delas — em comparação, todos os mamíferos vivos compreendem menos de 6,4 mil espécies.
A importância ecológica e econômica deles é imensa (são fungos que decompõem matéria orgânica morta, mas são eles tão também que produzem o antibiótico penicilina, por exemplo), o que torna extremamente importante para nós compreender sua história evolutiva.
Uma descoberta feita em solo canadense revelou que esse reino esquecido é muito mais antigo do que se imaginava: pode ter surgido há cerca de 1 bilhão de anos.
É o que afirmam cientistas da Universidade de Liège, na Bélgica. Eles encontraram os minúsculos fósseis em uma região ao sul da ilha Victoria, às margens do Oceano Ártico. Mais especificamente, os vestígios estavam na lama do deserto Ártico canadense, encravados em um xisto de águas rasas — que é uma espécie de rocha sedimentar de granulação fina.
Testes no xisto revelaram que ele se formou entre 900 milhões e 1 bilhão de anos atrás. E o fungo já estava lá.
No periódico Nature, os cientistas descrevem como várias análises químicas e estruturais identificaram o antigo organismo como uma nova espécie dentro do reino fungi, a Ourasphaira giraldae.
Com os fósseis sob o microscópio, os cientistas distinguiram claramente características-chave dos fungos, incluindo seus esporos esféricos, os filamentos ramificados que conectam os esporos e as paredes celulares duplas. Os esporos desse fungo têm menos de um décimo de milímetro de comprimento.
Segundo os cientistas, os organismos estão tão bem preservados que ainda exibem traços visíveis de quitina, composto orgânico usado para fazer paredes celulares de fungos.
Eles também afirmam que esse estado de preservação só foi possível pois os fungos estavam presos na lama solidificada, que impedia a entrada de oxigênio e a decomposição dos organismos.
Essa descoberta torna o fungo duas vezes mais velho que o recordista anterior, uma espécie de 450 milhões de anos, descoberta em Wisconsin, EUA.
Essa idade toda pode mudar antigos consensos na biologia, principalmente por causa do papel crucial dos fungos nos ecossistemas: a idade extrema do fungo recém-descoberto pode ter implicações para a história de outras formas de vida na Terra.
“Se isso é realmente fungo, então deve haver animais ao redor também”, disse Corentin Loron, um dos autores do estudo. “Não estamos falando de nada grande como dinossauros. Seria algo muito simples — talvez uma esponja”. Os cientistas afirmam que mais pesquisas precisam ser feitas para desvendar todos os mistérios desse fungo.