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Este é o animal mais antigo conhecido: 558 milhões de anos

Revelado hoje, o fóssil é relíquia de uma virada crucial na história da vida: o aparecimento dos primeiros seres vivos com mais de uma célula

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 set 2018, 14h30 - Publicado em 21 set 2018, 14h30
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  • A Terra tem 4,5 bilhões de anos de idade, mas um número grande desses, com 9 zeros, não diz muita coisa se não formos capazes de imaginá-lo. Para superar essa barreira, avancemos aos poucos, usando uma analogia. Há 4,5 bilhões de segundos, Dom Pedro II era o Imperador do Brasil, e a escravidão ainda levaria longos 14 anos até ser abolida. Estávamos em 1874.  

    Se a Terra tivesse 4,5 bilhões de segundos de idade (quer dizer, se ela tivesse nascido em 1874), ela teria 144 anos. A espécie humana, com seus humildes 300 mil anos, existiria há 3 dias e meio. Nada, essencialmente.

    Para ser justo, não é só o Homo sapiens que durou um piscar de olhos: os animais como um todo surgiram faz pouquíssimo tempo. Até o aniversário de 127 anos da Terra (note que ela já era extremamente idosa nessa época), todos os seres vivos ainda eram unicelulares e microscópicos. Às vezes eles formavam colônias razoavelmente cooperativas, mas parava por aí. O jogo só virou na explosão do Cambriano, há 541 milhões de anos — meros 17 anos atrás, na nossa conveniente escala baseada em segundos.

    A explosão do Cambriano é o nome dado pelos geólogos ao momento em que animais grandes e complexos surgem repentinamente no registro fóssil. Foi um capítulo de evolução acelerada na história natural, em que formas de vida grandes e cheias de truques — como lesmas, caramujos e insetos — pipocaram após bilhões de anos de tédio microscópico e sexo nada entusiasmado entre bactérias.

    Se a explosão do Cambriano foi tão lendária quanto a apresentação dos Rolling Stones em Copacabana, em 2006, o bichinho oval que está na foto ali em cima seria equivalente ao show de abertura dos Titãs. Ele foi uma prévia, um aperitivo do que a vida multicelular se tornaria. O Dickinsonia, como foi batizado, é o fóssil animal mais antigo já encontrado: viveu há 558 milhões de anos, 17 milhões de anos antes do marco zero.

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    Ele foi encontrado pelo estudante de doutorado russo Ilya Bobrovskiy em uma encosta íngreme às margens do Mar Branco — o nome da porção de água absurdamente gelada que separa o norte da Finlândia da Rússia. A análise de pequenos fragmentos de matéria orgânica presentes tanto no fóssil em si quanto na rocha ao seu redor (fragmentos esses cuja preservação é rara) permitiram estabelecer sem sombra de dúvida que o dito cujo era um animal, e não alguma outra forma de vida pré-histórica. A análise foi publicada hoje. 

    O Dickinsonia é parte de um grupo de organismos multicelulares pré-cambrianos (isto é, anteriores à explosão do Cambriano) chamados “biota ediacarana”. Esses carinhas eram um mistério para a ciência, pois embora seus fósseis sempre tenham indicado que eles foram mais do que simples colônias de bactérias, não dava para saber o que, exatamente, eles foram. Eles estavam em um limbo de classificação. A descoberta de Bobrovskiy resolveu esse dilema: agora sabemos, sem sombra de dúvida, que os ediacaranos foram animais. Os animais antes dos animais; os animais mais antigos de que se tem notícia.

    Os tais fragmentos orgânicos mencionados anteriormente são algo banal: colesterol. Colesterol com uma composição química tal que só pode ser encontrada em animais. Um ediacarano mais magrinho talvez não tivesse conseguido contar essa história. “Esse é exatamente o tipo de gordura que entregou que o Dickinsonia era, na verdade, um animal”, afirmou ao The Guardian Jochen Brocks da Universidade Nacional da Austrália, um dos que trabalharam na análise. Um brinde aos ediacaranos acima do peso. 

     

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