A resistência a antibióticos já é uma realidade em humanos. A lógica é simples: as pessoas tomam grandes quantidades de antibióticos, para um grande número de infecções – ou seja, um grande número de bactérias. Cada novo contato é uma “oportunidade” para aquelas bactérias. A maioria delas, em contato com antibióticos, vai morrer. Mas as poucas que conseguem resistir se reproduzem, passando o gene da resistência adiante. Quando menos se espera, eles já criaram toda uma população de bactérias resistentes – e aí aqueles antibióticos não fazem nem mais cócegas nelas.
Como essa história se repete em um grande número de casos, com um grande número de bactérias e um grande número de remédios, a resistência antibiótica começa a se tornar um problemão. E, agora, essa resistência também foi identificada em golfinhos. E a culpa é dos humanos.
Uma pesquisa da Universidade Atlântica da Flórida, nos Estados Unidos, examinou microorganismos causadores de doenças presentes em amostras de fezes, fluidos gástricos e até do nariz de golfinhos (aquele famoso “buraquinho” no topo da cabeça do animal). As amostras foram coletadas entre 2003 e 2015.
Mais de 170 golfinhos foram avaliados. Todos eles vivem em um conjunto de lagoas da Flórida chamado Indian River Lagoon. O habitat não foi escolhido à toa: a margem do local é densamente populada por humanos e sofre de problemas ambientais, como o descarte de resíduos nas lagoas.
De todas as amostras retiradas dos golfinhos, 88% apresentou patógenos resistentes a pelo menos um antibiótico. O antibiótico ao qual as bactérias eram mais resistentes é a eritromicina, normalmente usada para tratar acne e doenças sexualmente transmitidas, como sífilis e clamídia.
Ao longo dos 12 anos de pesquisa, a resistência à ciprofloxacina, usada por humanos para eliminar infecções bacterianas em diversos lugares do corpo, mais do que duplicou nos golfinhos.
É claro que nenhum golfinho toma remédio para tratar DST. Os antibióticos usados pelos humanos chegam na água principalmente através do esgoto. Quando entram em contato com os golfinhos, acontece aquela mesma seleção natural: as bactérias que não são resistentes morrem, e as superbactérias prevalecem.
Segundo os autores do estudo, os resultados apenas refletem a extensão do fenômeno que acontece com os humanos – por ano, atualmente, as bactérias super-resistentes já matam mais de 700 mil pessoas.