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Havaí solta milhões de mosquitos para salvar aves raras da extinção

As aves endêmicas do grupo dos honeycreepers estão ameaçadas por causa do parasita da malária

Por Caio César Pereira
29 jun 2024, 12h00

Para salvar algumas espécies de pássaros endêmicos do arquipélago havaino, pesquisadores e conservacionistas estão adotando uma tática um tanto quanto inusitada: liberar milhões de uma determinada espécie de mosquito.

Pode parecer estranho, mas a ideia faz sentido. Vamos explicar. As aves do grupo dos honeycreepers são animais coloridos e que só existem nas ilhas havaianas. O seu canto é similar a de um canário e eles são tão diversos que, apesar de serem do mesmo grupo, as espécies possuem bicos de formas diferentes dependendo do tipo de alimento ingerido.

Como eles podem comer de quase tudo, como néctar, frutos do mar ou até mesmo caracóis, essas aves são espécies chave do ecossistema das ilhas, ajudando não somente na polinização, mas também no controle de outras espécies (como outros insetos, por exemplo).

O problema é que eles estão morrendo por conta do parasita da malária. Desde meados do século, quando os navios europeus e americanos chegaram ao arquipélago, as aves passaram a serem expostas a doença da malária que veio junto com os mosquitos trazidos pelos colonos. Só que como os honeycreepers não possuem uma imunidade contra o parasita, suas populações começaram a decair desde então. 

Pelo menos 33 espécies desse grupo já foram extintas, com várias ainda ameaçadas das 17 espécies restantes. A maioria delas vive em locais altos e mais frios, com altitudes acima dos 1.500 metros, longe do habitat dos mosquitos com o parasita da malária. Só que o aquecimento global está fazendo esses lugares mais quentes, possibilitando a chegada dos mosquitos.

Como esses animais podem acabar morrendo com somente uma picada dos insetos que carregam o parasita, os pesquisadores temem que as populações restantes desapareçam de forma rápida. O honeycreeper escarlate (‘i’iwi), por exemplo, tem 90% de chance de morrer se for picado por um mosquito infectado.

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Assim, os pesquisadores decidiram liberar ainda mais desses mosquitos, mas com uma leve diferença: os machos carregam uma bactéria natural que impede o nascimento de novos mosquitos. 

A técnica, chamada de técnica do inseto incompatível (IIT ou incompatible insect technique, no original), é um método de controle de mosquitos, em que são utilizados machos contaminados com a bactéria Wolbachia. Quando esses machos se acasalam com as fêmeas, a bactéria impede que os ovos dela eclodem. A bactéria vive normalmente em insetos, mas só consegue gerar ovos viáveis caso o parceiro também possua a bactéria (nesse caso, as fêmeas também precisam possuir a Wolbachia para que seus ovos eclodam). 

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Como esses mosquitos só se acasalam uma vez, é esperado que sua população diminua consideravelmente com o tempo. Até agora, pelo menos 10 milhões de mosquitos machos já foram liberados, com cerca de 250 mil deles sendo soltos toda semana por helicópteros. 

Pode até parecer uma ideia estranha e que poderia gerar um evento dominó no ecossistema, mas essa tática já vem sendo utilizada para controle de mosquitos em outros lugares do mundo, como na China e no México. 

O projeto no Havaí é coordenado pelo Serviço Nacional de Parques dos EUA, o estado do Havaí e o Projeto de Recuperação de Aves da Floresta de Maui. “A única coisa que seria mais trágica é se [os pássaros] fossem extintos e não tivéssemos tentado. Não tentar não é uma opção”, conta em entrevista ao National Park Service Chris Warren, coordenador do programa de aves florestais do parque nacional Haleakalā na ilha de Maui.

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