Além de ter construído a famosa arca, Noé também assina outro feito importante, mas bem menos comentado: plantar o que pode ter sido o primeiro vinhedo da literatura mundial — como conta o capítulo 9 do livro do Gênesis. Milênios antes de a Bíblia ser escrita, no entanto, a bebida fermentada já fazia sucesso. Um novo estudo, publicado na revista científica PNAS, relata ter descoberto a evidência mais antiga do consumo de vinho. Ela data de 6 mil anos antes de Cristo, e vem da região que atualmente corresponde à Geórgia.
As jarras do período neolítico estavam nos sítios arqueológicos de Gadachrili Gora e Shulaveris Gora, 30 km ao sul da capital Tbilisi. Análises químicas encontraram substâncias presentes no vinho (como o ácido tartárico) em 8 botijas. A aparência dos artefatos também entrega sua função: em alguns dos vasos, é possível notar imagens de cachos de uva e homens dançando — como se participassem de uma celebração.
Não é exagero nenhum cravar a região do Cáucaso como o berço da produção mundial de vinho. Por lá, existem 500 variedades de uvas, muitas delas usadas na produção da bebida. Nas montanhas Zagros, a nordeste do Irã, os cientistas também já haviam encontrado cerâmicas com 7 mil anos de idade. Por muito tempo, elas foram a evidência mais antiga desse bebida, em uma época em que os primeiros humanos ainda tentavam dominar ferramentas de pedra lascada.
“O vinho é essencial para o conceito de civilização que conhecemos aqui no Ocidente. Como medicamento, catalisador social, substância entorpecente e mercadoria de alto valor, o vinho se tornou central para cultos religiosos, farmácia, culinária, economia e sociedade do oriente próximo”, explicou o co-autor Stephen Batiuk, em entrevista à BBC.