Pesquisadores criaram e testaram com sucesso uma forma de visão artificial. Após receber um implante cerebral, Bernardeta Gómez, de 57 anos, pôde identificar letras, linhas e formas simples – e conseguiu até jogar uma versão simplificada do jogo Pac-Man.
Gómez perdeu a visão há 16 anos por uma lesão do nervo óptico chamada neuropatia óptica tóxica. Em uso inédito da tecnologia, a equipe de pesquisadores implantou um arranjo de 96 microeletrodos, com 4 mm por 4 mm, no córtex visual da ex-professora de biologia, para fazê-la enxergar.
Durante os experimentos, Gómez usou óculos especiais, equipados com uma câmera. Os dados visuais coletados pelos óculos eram codificados e enviados para os eletrodos. Eles estimulavam diretamente o cérebro da voluntária, que transformava os sinais elétricos em imagens.
Os pesquisadores ativaram os eletrodos gradualmente nos testes, para aumentar a complexidade da estimulação à medida que o cérebro de Gómez aprendia a distinguir as imagens. Ela começou visualizando pontos, avançou para a identificação de barras (exemplificada neste vídeo) e, posteriormente, pôde perceber um rosto humano.
Os experimentos aconteceram durante um período de seis meses e foram relatados em um estudo publicado recentemente na revista Journal of Clinical Investigation. Segundo os pesquisadores, não houve complicações para a implantação e posterior retirada dos eletrodos. Também não se percebeu influência do implante para além do córtex visual, e os eletrodos não prejudicaram a função de neurônios próximos.
Trata-se de um caso individual e um estudo piloto, mas os resultados foram considerados um marco por especialistas. Eduardo Fernández, líder da pesquisa, afirma que eles são empolgantes e demonstram segurança e eficácia. “Demos um passo significativo, mostrando o potencial desses tipos de dispositivos para restaurar a visão funcional de pessoas que perderam a visão.” Para os próximos estudos, com outros voluntários, os pesquisadores pretendem usar processadores de imagem mais sofisticados para maior estimulação e reprodução de imagens mais complexas.
Richard Normann, colaborador da pesquisa que inventou o arranjo de eletrodos utilizado, afirma que um dos objetivos é dar mais mobilidade a uma pessoa cega. Segundo ele, o desenvolvimento de dispositivos de visão artificial “pode permitir que pessoas cegas identifiquem uma pessoa, portas ou carros mais facilmente. Isso pode aumentar a independência e a segurança.”