Os manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre a terra e o mar, característicos das regiões tropicais e subtropicais. A Amazônia tem a maior faixa de mangue do mundo, com uma área de cerca de 8 mil km².
Agora, um estudo publicado na Nature Communications mostra que, além de colaborar para a biodiversidade e preservação da floresta, os manguezais têm um papel essencial no sequestro de carbono da Amazônia.
A pesquisa, liderada por cientistas brasileiros, mostra que os mangues deveriam ser incluídos no programa REDD+ da ONU. A iniciativa é um mecanismo de remuneração para os países em desenvolvimento que conservam suas florestas de pé, evitando as emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento.
Incluir a conservação dos manguezais no REDD+ pode levar a reduzir três vezes mais as emissões de gases de efeito estufa do que se conservar só a zona terrestre da floresta Amazônica.
“A inclusão dos manguezais no REDD+ dentro do Brasil é importante, mas um aspecto a se tomar cuidado é o uso de projetos no mercado de carbono para greenwashing e bluewashing, que é como chamamos nesse caso de carbono costeiro”, explica Guilherme Abuchahla, pesquisador de manguezais do instituto Leibniz-ZMT, em Bremen, Alemanha, que trabalha com a preservação desses ecossistemas. Essas estratégias de “lavagem verde e azul” consistem em criar uma falsa fachada sustentável para uma empresa, enquanto continua degradando o meio ambiente.
Para o Guilherme, o REDD+ não é a coisa mais interessante para o mangue amazônico, área com pouca urbanização e desmatamento, porque o projeto não produziria tanto crédito de carbono, já que o risco de perder aquela área, não tão explorada quanto a floresta terrestre, é baixo. O programa da ONU visa muito mais projetos de restauração do que de conservação, que oferecem chances maiores de “remoção e redução de emissões”.
O estoque de carbono armazenado pelas plantas do mangue é quatro vezes maior do que o da Amazônia terrestre, evidenciando a importância de preservar esse ecossistema. Enquanto nos manguezais dois terços do carbono ficam armazenados no solo, a floresta só consegue sequestrar o gás pelas copas das árvores.
O que é sequestro de carbono?
As florestas e os oceanos são essenciais na luta contra a crise climática por causa de sua capacidade de sequestrar carbono. Organismos que fazem fotossíntese capturam o gás carbônico presente na atmosfera, estocam ele e liberam oxigênio. Dessa forma, os níveis de gases estufa na atmosfera diminuem.
O maior inimigo do sequestro natural de carbono é o desmatamento. Ele não só diminui o efeito de captura de gás carbônico como libera na atmosfera aquilo que as plantas e outros seres fotossintetizantes tinham acumulado e armazenado, especialmente nas copas das árvores.
As emissões de gases de efeito estufa no Brasil, um dos seis países que mais poluem no mundo, são majoritariamente causadas por desmatamento e mudança do uso do solo, transformando aquilo que era floresta em área agropecuária.
O mangue amazônico pode armazenar até 468 megatoneladas de carbono por hectare (Mg C/ha), enquanto a média da floresta terrestre é de apenas 129Mg C/ha. Os manguezais não eram vistos como tão importantes nos programas nacionais de redução de emissões, porque sua capacidade de captura de carbono não era conhecida até agora.
O mangue é muito menor do que o resto da floresta Amazônica, mas sua proteção pode ser, proporcionalmente, mais eficaz em impedir que o carbono sequestrado seja liberado na atmosfera. Cada 751 hectares de manguezais na Amazônia Legal podem valer por 82 mil hectares de mata secundária, que é aquela floresta que já foi usada para agricultura ou pastagem e depois teve sua vegetação regenerada.
No início de junho de 2024, o governo federal do Brasil anunciou a criação do ProManguezal, programa de conservação e uso sustentável dos manguezais brasileiros, para proteger mais as áreas desse ecossistema.