Microcontinente submerso é descoberto entre Canadá e Groenlândia
O microcontinente surgiu há 30 milhões de anos, entre a Groenlândia e o Canadá. Um novo estudo reconstrói história geológica para entender a formação.
Uns bons 300 milhões de anos atrás, todos os continentes viviam em união na Pangeia. Por que eles se separaram? Brigas de família, vontade de seguir o próprio rumo? Na verdade, o que causou a deriva dos continentes foi o movimento das placas tectônicas, enormes blocos rochosos que compõem a crosta terrestre e se mexem de um lado para o outro sobre o manto.
Num limite entre placas tectônicas localizadas entre o Canadá e a Groenlândia, cientistas agora localizaram um microcontinente submerso que não rachou completamente, o proto-microcontinente do Estreito de Davis.
O Estreito de Davis se situa entre a costa oeste da Groenlândia e a Ilha de Baffin, no Canadá. Essa passagem oceânica conecta dois mares, o Labrador e a Baía Baffin. Ela é mais rasa que ambos, com profundidades que variam entre 1.000 e 2.000 metros. Essa formação geológica surgiu no período Paleogeno, entre 33 e 61 milhões de anos atrás.
No Estreito de Davis, há um pedaço de crosta continental grosso, de cerca de 19 a 24 quilômetros. Essa anomalia geológica é o microcontinente submerso, descoberto por pesquisadores ingleses e suecos. Ele foi descrito em estudo publicado na revista científica Gondwana Research.
Reconstruindo história geológica
Na pesquisa, o doutorando Luke Longley e os doutores Jordan Phethean e Christian Schiffer reconstruíram como as placas tectônicas se moviam há mais de 30 milhões de anos. Foi esse movimento que levou à formação do microcontinente.
Os pesquisadores caracterizaram essa formação geológica no Estreito de Davis como um “proto-microcontinente”. Mas o que isso significa? Eles definem a expressão como “regiões de litosfera continental relativamente espessa separadas de continentes maiores por uma zona de litosfera continental mais fina”.
O processo que formou esse microcontinente é constante: crosta do planeta passa por afinamento e ruptura, criando fendas continentais chamadas de “riftes”. Cada terremoto ou indício de atividade sísmica pode levar a novas separações de microcontinentes.
Usando mapas com dados de gravidade e atividade sísmica na região, os pesquisadores identificaram a idade e a orientação das falhas tectônicas entre a Groenlândia e o Canadá. Assim, eles conseguiram reconstruir a história geológica da região e entender como se formou o proto-microcontinente.
O afastamento da Groenlândia da placa norte-americana começou há cerca de 118 milhões de anos, segundo o estudo. Já a formação do Estreito de Davis se iniciou há, aproximadamente, 61 milhões de anos. O microcontinente, então, provavelmente surgiu entre 49 e 58 milhões de anos atrás. O movimento parou há 33 milhões de anos, quando a Groenlândia se chocou com a Ilha de Ellesmere, no extremo norte do Canadá, se juntando de novo à placa tectônica da América do Norte.
A diferença entre o microcontinente do Estreito de Davis e o resto da região é que ele tem entre 19 e 24 quilômetros de grossura da crosta, enquanto as áreas que o separam da Groenlândia e da Ilha Baffin têm entre 15 e 17 quilômetros de espessura.
Entender como esse microcontinente se formou gera conhecimento que pode ser aplicado ao estudo de outras formações semelhantes – como Jan Mayen no nordeste da Islândia e o Gulden Draak Knoll, na costa oeste da Austrália. Além disso, os dados dão uma compreensão mais ampla de como funcionam as placas tectônicas, podendo auxiliar na mitigação de perigos causados pelos movimentos geológicos.