Os microplásticos podem até ser minúsculos (ou até microscópicos, dependendo do tamanho). Mas os problemas que causam são de gente grande. Além de já serem encontrados no topo do Everest e até mesmo na placenta humana, eles agora já aparecem contaminando sítios arqueológicos antigos.
Os chamados microplásticos variam de 0,001 a 5 milímetros de tamanho (tão ou mais pequeno que um grão de areia). Eles podem vir de diversas fontes, como lavanderias, aterros sanitários, produtos de beleza, lodo de esgoto e etc.
Como eles demoram centenas de anos para se decompor, vão se fragmentando em pedaços cada vez menores, o que torna seu tratamento cada vez mais difícil.
Em um estudo publicado na revista científica Science of the Total Environment, pesquisadores das Universidades de Hull, York e Lincoln, todas no Reino Unido, descobriram evidências desses microplásticos em um sítio arqueológico na região de York, na Inglaterra.
Os microplásticos foram encontrados em depósitos de solo de 7,35 metros de profundidade, que datam provavelmente do século 1 ou 2 d.C. Ao todo, os pesquisadores encontraram 66 partículas de microplásticos, de 16 tipos de polímeros diferentes, tanto em amostras recentes, quanto em amostras coletadas nos anos 80.
A quantidade encontrada dependia da localização e da profundidade das amostras, mas variava em torno de 0 a 20.588 MP/kg (encontrada na maior profundidade). Utilizando uma técnica de espectroscopia de imagem chamada de μFTIR, os pesquisadores puderam detectar a quantidade, o tamanho e composição de microplásticos presentes nas amostras.
“Isso parece ser um momento importante, confirmando o que deveríamos ter esperado: que o que anteriormente eram considerados depósitos arqueológicos intocados, prontos para investigação, estão na verdade contaminados com plásticos, e que isso inclui depósitos amostrados e armazenados no final dos anos 1980”, conta em declaração à imprensa John Schofield, arqueólogo da Universidade de York e um dos pesquisadores do estudo.
Só nos últimos 100 anos, a humanidade já produziu quase 9 bilhões de toneladas de plástico. A maior parte não foi reciclada, sendo encontrada nos lixões, e principalmente nos oceanos. O número já chega a 171 trilhões de partículas nas águas de todo o mundo.
Agora, além de poluir os ecossistemas da Terra, colocando o futuro ambiental do planeta em risco, o microplástico também pode estar prejudicando amostras arqueológicas do passado.
“Nós estamos familiarizados com os plásticos nos oceanos e nos rios. Mas aqui vemos nosso patrimônio histórico incorporando elementos tóxicos. Até que ponto essa contaminação compromete o valor probatório desses depósitos e sua importância nacional é o que tentaremos descobrir em seguida”, conclui Schofield.
Para David Jennings, diretor executivo da York Archaeology e outro pesquisador envolvido no estudo, ao contrário do que se pensava, a contaminação dos microplásticos no planeta não é algo tão recente, e que o próximo passo é descobrir o quão prejudicial eles podem ser para os estudos arqueológicos.
“Os achados vikings em Coppergate estavam em um ambiente anaeróbico encharcado de água consistente por mais de 1000 anos, o que preservou materiais orgânicos de forma incrível. A presença de microplásticos pode e irá alterar a química do solo, potencialmente introduzindo elementos que causarão a decomposição dos restos orgânicos. Se esse for o caso, preservar a arqueologia in situ (no local) pode não ser mais apropriado.”