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Museu da Natureza: o mais novo atrativo da Serra da Capivara

Recém-inaugurado no Piauí, ele aborda desde o surgimento do universo até a contemporaneidade para falar sobre a evolução da natureza na região

Por Ingrid Luisa
2 jan 2019, 12h37
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  • Depois da tragédia com o Museu Nacional, que pegou fogo em setembro de 2018, a população brasileira foi alertada sobre o risco que muitos desses espaços sofrem pelo descaso do poder público. E, mais ainda, percebeu que precisava visitar seus museus. Afinal, não está na ordem natural das coisas o Louvre, em Paris, ter mais visitantes brasileiros que o museu carioca antes do incêndio.

    Apesar da grande diversidade que temos, incluindo excelentes acervos científicos, precisávamos de um genuíno museu de história natural para chamar de nosso. Faltava algo que não só explicasse e mostrasse a história do universo, mas situasse o território em que vivemos no meio disso tudo. Mas o Museu da Natureza, que acabou de ser inaugurado no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, interior do Piauí, cumpre com maestria esse papel.

    A experiência

    O Museu da Natureza já chama a atenção pela arquitetura do prédio que o abriga: sendo o primeiro edifício circular e em espiral todo planejado com estrutura metálica no Brasil, as 12 “salas” do museu formam uma grande rampa helicoidal – como o tronco do mandacaru –, para representar, no sentido ascendente, a evolução das mudanças geológicas e paleontológicas do planeta.

    Nele é possível ver e interagir com eventos cruciais desde as origens da vida até a contemporaneidade. Por exemplo, na primeira sala, para ilustrar a atração entre os corpos (que está na essência da formação do Universo), podemos testar mesas com diferentes tipos de ímãs e observar rochas primitivas (e meteoritos) em microscópios. Depois, na sala que informa sobre a formação dos continentes na Terra, podemos reorganizar as massas terrestres atuais como quisermos em um globo gigante.

    O objetivo disso é abranger, sob um ponto de vista cosmológico, todas as eras existentes. O museu é didático e interativo, fornecendo informações e experiências lúdicas para os visitantes. E um grande foco é conhecer mais sobre as espécies que já habitaram a região: de trilobitas a tigres-dente-de-sabre.

    “Todas as salas são vivenciais. Cada uma delas tem recriações de seres e paisagens que aqui existiram. Um dos pontos altos é o voo livre sobre a Serra da Capivara, o filme no teto com narração da [cantora] Maria Bethânia, a recriação da mega fauna brasileira, e o Infinito da Biodiversidade com os milhares de insetos”, diz o curador do Museu da Natureza, Marcello Dantas.

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    Confira imagens das quatro experiências citadas por ele:

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    Asa delta que usa realidade virtual para recriar um voo livre sobre a região em que está situado o museu (Ingrid Luisa/Superinteressante)
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    Um filme, com narração de Maria Bethânia, contando toda a história do universo e das intervenções do homem é exibido em um espiral no teto da última sala do museu (Ingrid Luisa/Superinteressante)
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    A sala com os fósseis da mega fauna brasileira mostram tigres-dente-de-sabre, preguiças gigantes, dentre outros grandes animais em uma grande parede interativa (Ingrid Luisa/Arquivo pessoal)
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    o “Infinito da Biodiversidade” é uma sala que fala sobre as intensas mudanças climáticas e as diferentes espécies animais que já habitaram a região (Ingrid Luisa/Superinteressante)

    Idealização

    “A ideia de construir o Museu da Natureza partiu da [arqueóloga] Niede Guidon. Ela achava que a nossa história não poderia se limitar à história do homem, pois as descobertas na Serra da Capivara revelaram muito sobre a evolução da natureza”, diz Marcello.

    O Museu da Natureza se baseia em quase 50 anos de estudos na região. Situado na zona rural do município de Coronel José Dias (a 516 quilômetros de Teresina-PI), ele está no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

    A Serra da Capivara possui a maior concentração de sítios arqueológicos do mundo: mil e duzentos. As milhares de pinturas rupestres, datadas de 12 mil a 6 mil anos atrás, incluem figuras humanas, animais e uma diversidade de cenas cotidianas que as tornam únicas. Mas Niede Guidon acreditava que mais do que a história humana, a Serra também conta a evolução da natureza na região — e do nosso próprio planeta.

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    “Quando cheguei na região, majoritariamente composta pela Caatinga, vi que havia vales profundos e muitos rios por aqui. Nas escavações encontramos muitos fósseis marinhos. Mas como eles vieram parar aqui? Eu e uma equipe de geólogos e paleontólogos estudamos tudo e constatamos: o mar já cobriu toda essa região”, conta Niede. Um dos fósseis mais comuns na Serra da Capivara são os trilobitas, artrópodes que habitaram os oceanos por quase 300 milhões de anos, do Cambriano ao Permiano — quando foram extintos.

    Com isso em mãos, e após registrar os achados humanos da região no Museu do Homem Americano, Niede idealizou o Museu da Natureza em 2002. Mas o dinheiro só saiu em 2017, por meio do BNDES. E com um pequeno detalhe: sem nenhuma correção monetária em relação a 2002, quando foi idealizado pela primeira vez. Foram necessárias diversas adaptações no projeto para não estourar o orçamento, o que tornou o museu mais simples do que o originalmente imaginado.

    A construção do local começou em junho de 2017, e foi concluída em dezembro de 2018. O Museu da Natureza é uma bela mistura de ciência, tecnologia, arquitetura e arte — e, o melhor: é tudo genuinamente nosso.

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