Durante muito tempo, os cientistas presumiram que todos os neandertais possuíam sangue do tipo O – sem, necessariamente, explorar o tema a fundo. Mas um grupo de pesquisadores da Universidade Aix-Marseille, na França, resolveu mudar este cenário. Analisando o genoma previamente sequenciado de neandertais, a equipe encontrou evidências de sangue do tipo A e B, mostrando que os antigos hominídeos já apresentavam variedade sanguínea semelhante a de humanos modernos.
A pesquisa foi publicada na revista Plos One. Foram estudados, no total, o genoma de três neandertais do sexo feminino e um denisovano (um primo perdido dos Homo sapiens) que viveram entre 40 mil e 100 mil anos atrás. Os cientistas se concentraram na análise de sete dos 35 sistemas de grupos sanguíneos conhecidos. Estes grupos são coleções de antígenos (substância que desencadeia a produção de anticorpos) comumente analisados pelos médicos ao realizar uma transfusão sanguínea. Os sistemas mais comuns, os quais aprendemos na escola, são o ABO (que determina os tipos sanguíneos A, B, AB e O) e Rh, que pode ser positivo ou negativo.
Os neandertais analisados apresentaram sangues do tipo A e B, comparando-se aos humanos modernos. Mas isso não foi tudo: as análises também permitiram aos cientistas confirmar outras hipóteses. No código genético das amostras, eles encontraram alelos (formas alternativas de um mesmo gene) específicos que apontam para o continente africano, reforçando a ideia de que os neandertais e denisovanos se originaram por lá.
Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foi a descoberta de um raro fator Rh nos neandertais, ausente em humanos modernos. Até então, havia apenas duas exceções de Homo sapiens que apresentavam este alelo incomum: um aborígene australiano e um papua (de Papua Nova-Guiné). O fato inusitado sugere um possível cruzamento entre neandertais e Homo sapiens antes da migração deste segundo grupo para o sudeste asiático.
O fator Rh exclusivo pode explicar também um dos possíveis pontos que levaram ao declínio dos neandertais. Talvez você já tenha ouvido falar sobre a eritroblastose fetal, que ocorre quando o corpo de uma mãe com fator Rh positivo (Rh-) rejeita o feto de RH positivo (Rh+) devido à incompatibilidade sanguínea. Os cientistas acreditam que mães neandertais que engravidaram de companheiros Homo sapiens ou denisovanos podem ter perdido os recém-nascidos para esta mesma doença.
Os cientistas notaram ainda que os neandertais e o denisovano tinham baixa diversidade genética. No caso dos neandertais, os pesquisadores sugerem que isso está relacionado à endogamia, ou seja, o cruzamento entre membros de uma mesma família. E tanto isso quanto o problema da eritroblastose reforçam o pressuposto de que a espécie teria se extinguido devido à pouca diversidade genética e baixo sucesso reprodutivo.