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O meteoro é inocente?

Uma rede de especialistas americanos encontrou duas evidências que estão servindo de ótimos advogados de defesa do meteoro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 31 jul 2002, 22h00
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  • Leandro Narloch

    Um meteoro com o diâmetro da cidade do Rio de Janeiro abalroou a Terra a uma velocidade de 72 000 quilômetros por hora há quase 65 milhões de anos, mergulhando o planeta numa nuvem de poeira, escondendo o sol por anos, ativando vulcões no mundo todo, gerando terremotos e ondas gigantescas e matando de fome todos os dinossauros. Essa teoria, surgida há mais de 20 anos, já era aceita por quase todo o establishment científico. Mas alguns pesquisadores estão lançando dúvidas sobre ela. Talvez o infame meteoro não seja tão culpado assim – ele pode ter dado apenas o golpe de misericórdia em animais que já estavam à beira da extinção.

    Que o tal meteoro existiu e que causou uma bagunça danada ninguém duvida. Está lá a imensa cratera no Golfo do México – 20 vezes maior que o Grand Canyon – para provar. O que os geólogos ainda querem saber é se o impacto realmente causou a extinção do Cretáceo Terciário, um dos maiores aniquilamentos da história da Terra.

    Uma rede de especialistas americanos encontrou duas evidências que estão servindo de ótimos advogados de defesa do meteoro. A equipe analisa fósseis pequenos (fragmentos de crânios, dentes, escamas e folhas), no Vale do Hell Creek (isso mesmo, o lugar chama Riacho do Inferno), em Montana, Estados Unidos. E descobriu que a maior parte das aves de hoje originou-se antes do impacto, ou seja: estavam na Terra quando o asteróide veio dar um tibum por aqui. Mesmo assim sobreviveram. O mesmo ocorreu com tartarugas, crocodilos e até com sapos e salamandras, espécies tidas como frágeis – são as primeiras a desaparecer em algum distúrbio ambiental hoje em dia. Por que só os temerosos dinossauros não escaparam?

    Segundo os cientistas da Universidade de Berkeley que atuam no Hell Creek, os fósseis de angiospermas (árvores com flores e frutos) diminuíram 90% alguns milhares de anos antes do impacto. É o mesmo que dizer que nove em cada dez delas já haviam sido extintas antes de o meteoro chegar. Se desaparecem as árvores, quem se alimenta delas – gigantes como o triceratops – precisa ralar muito mais para sobreviver. Os dinossauros carnívoros, predadores dos herbívoros, mais ainda. Ou seja, para o grupo do Hell Creek, a maioria das espécies de dinos desapareceu antes da chegada do meteoro. Ele seria apenas um coadjuvante a desferir o golpe final da matança, que teria as mudanças ambientais dos últimos três milhões de anos do Cretáceo como o grande vilão.

    Fósseis de moluscos de água doce encontrados na região, na época um enorme canal marítimo que ia do México ao Canadá, são a prova de que o mar subiu e desceu algumas vezes durante o período, criando ciclos de gigantescas inundações e secas. Como se não bastasse, os dinos precisaram enfrentar o mais intenso vulcanismo da história da Terra. Sabe-se que, no fim do Cretáceo, foram expelidos, a partir da Índia, 1 milhão de quilômetros cúbicos de lava, o mesmo que 500 000 vulcões em ação ao mesmo tempo. Isso pode ter provocado um aquecimento global. Essas sim seriam as razões da extinção.

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