Assim como é fácil para um brasileiro identificar o sotaque do português de Portugal, os ingleses e americanos também reconhecem o inglês australiano. E isso acontece até mesmo entre os animais – pelo menos com as orcas. Segundo uma série de estudos da Universidade Curtin, na Austrália, as orcas do oeste do país também podem ser diferenciadas por seu “sotaque”.
A pesquisa é conduzida pelo Projeto Orca, do centro de biologia marinha da universidade. Ele estuda vocalizações das orcas há dez anos, mas há apenas cinco começou a observar os mamíferos da sub-bacia de Bremer, onde o diferencial foi detectado.
Os chamados e assobios das orcas dessa região são ligeiramente diferentes de outras partes do mundo, como se fosse um dialeto. Eles não se diferenciam tanto a ponto de serem considerados uma nova “língua”, por isso a pesquisadora Rebecca Wellard, líder do estudo, prefere classificá-los como um “sotaque”.
Para quem não está acostumado a ouvir os sons dos mamíferos marinhos diariamente, pode ser difícil notar a diferença entre os chamados, mas Wellard garante que consegue identificar a orca australiana só pelo ouvido. Caso queira testar sua audição, compare os sons dos animais das ilhas San Juan, nos Estados Unidos, e da Austrália no vídeo abaixo.
Não dá para saber exatamente o que elas estão dizendo, mas os biólogos conseguem identificar o tipo de chamado com base no comportamento e no contexto em que ele é utilizado. Por exemplo, um mesmo som pode ser usado para indicar perigo entre as orcas de todo o mundo — mas as australianas têm uma “pronúncia” ligeiramente diferente.
Segundo a pesquisadora, o que muda de uma região para outra é a estrutura do chamado. Os sons são gravados utilizando um microfone submarino, também conhecido como hidrofone. Essas gravações são analisadas em laboratório para medir alguns parâmetros, como frequência máxima e mínima do som. Ao todo, são mais de 20 características detectadas em cada chamado.
Depois de tudo isso, os dados da Austrália são comparados com outras regiões, principalmente Estados Unidos, que têm maior tradição no estudo desses animais. Por lá, as populações de orcas vêm sendo monitoradas há mais de 40 anos.
Wellard ressalta a necessidade de mais estudos e anos de monitoramento para compreender as características e o estado de saúde das orcas do oeste da Austrália, a maior concentração do país. Quem sabe outras “variantes regionais” possam ser descobertas.