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Pato australiano aprende a pronunciar insulto – como se fosse um papagaio

Estudo recém-publicado descreve comportamento do animal, que não é comum na espécie; vocalizações estão relacionadas à criação em cativeiro

Por Carolina Fioratti
7 set 2021, 17h11

Na natureza, os patos almiscarados (Biziura lobata) aprendem a emitir assobios agudos com as aves mais velhas do bando. Ripper, um integrante da espécie criado em cativeiro na Austrália, teve um método de ensino diferente. Sem veteranos para ensiná-lo os barulhos característicos da espécie, ele acabou reproduzindo os sons que escutava no ambiente ao seu redor – o que envolvia desde xingamentos utilizados pelos humanos até a bateção de portas do aviário. 

O comportamento de Ripper foi notado pela primeira vez há mais de 30 anos, mas ainda não havia sido descrito em revistas científicas. Agora, um pesquisador da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, resolveu mudar esse cenário. O etólogo Carel Ten Cate resgatou áudios antigos e redigiu um artigo sobre a aprendizagem vocal de patos almiscarados, que foi publicado no jornal Philosophical Transactions of the Royal Society B.


Os áudios acima, que mostram o animal imitando o som de uma porta batendo e dizendo You bloody fool! – “seu idiota, em inglês – foram gravados ainda na década de 1980 pelo cientista (agora aposentado) Peter J. Fullagar. Ele gravou Ripper, o pato mal educado, na Reserva Natural de Tidbinbilla, próximo a capital australiana Camberra. Décadas depois, Ten Cate, que estuda o aprendizado vocal em pássaros, ouviu a história sobre os patos falantes australianos e resolveu contatar Fullagar. 

A iniciativa foi bem recebida pela comunidade científica. Agora, temos uma evidência que coloca pela primeira vez o pato almiscarado ao lado de outras espécies capazes de reproduzir sons externos e de outros animais, como os papagaios, pássaros canoros, beija-flores, morcegos, baleias, elefantes e humanos. O pato australiano era o único de sua espécie no cativeiro, e parece ter aprendido a xingar ainda em suas primeiras semanas de vida, após ter tido contato com um zelador mal humorado.

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Ripper não é uma exceção. Fullagar também guardava registros de outros dois patos almiscarados que foram viver na reserva australiana nos anos 2000. Era uma mãe com seu filhote, que dividiam espaço com patos pretos do Pacífico (Anas superciliosa). A fêmea não emitia sons, mas seu primogênito aprendeu a reproduzir os gritos de seus colegas da outra espécie. Ten Cate também procurou por outros etólogos, e acabou descobrindo a história de mais dois patos almiscarados que viviam em cativeiro no Reino Unido. Eles tinham o costume de imitar pôneis bufando, pessoas tossindo e portas rangendo.

O número de registros do comportamento é limitado, mas os pesquisadores justificam dizendo que essa é uma espécie agressiva e difícil de ser criada em cativeiro. Ainda não se sabe como os patos almiscarados se tornaram suscetíveis ao aprendizado vocal, mas os cientistas têm suas hipóteses: para começo de conversa, o telencéfalo destas aves – parte do cérebro associada ao aprendizado vocal nos papagaios e pássaros canoros – é maior do que em outros grupos de pássaros. Outro ponto que os cientistas perceberam é que estes patos estão mais próximos da base na árvore evolutiva dos pássaros. Isso significa que os patos almiscarados podem ter desenvolvido a capacidade de imitação mais cedo e de forma separada de outras espécies que também reproduzem o comportamento. Os cientistas devem seguir estudando o fenômeno.

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