Nos últimos 50 anos, as populações de peixes migratórios de água doce despencaram mais de 80% em várias regiões do mundo, consequência das mudanças climáticas e da crise ambiental que vivmos.
Essa conclusão faz parte de um estudo realizado pela World Fish Migration Foundation (Fundação Mundial para a Migração de Peixes), divulgado via seu novo relatório relatório do Índice Planeta Vivo (LPI). Ele mostrou que entre 1970 e 2020, a média na queda da população de peixes migratórios de água doce ficou em 81%. Na América Latina, esse declínio chegou a 91%, enquanto que na Europa alcançou 75%.
Peixes migratórios são espécies com ciclos de vida definidos que envolvem a migração, geralmente entre dois habitats. Muitas vezes essa viagem é feita para fins de procriação ou de alimentação. Um exemplo comum de peixe migratório é o salmão. No caso do novo estudo, foram consideradas espécies que vivem na maior parte do tempo em água doce.
Essas populações estão diminuindo em todas as regiões do mundo (com uma maior rapidez na América do Sul e no Caribe), devido principalmente à degradação dos habitats desses animais. As causas para essa degradação são variadas.
Muitos rios ao redor do mundo não conseguem fluir de forma natural, com diversas represas e barreiras fragmentando o seu curso. Na Europa, acredita-se que os rios sejam atingidos por pelo menos 1,2 milhão de barreiras. Juntamente com a conversão de áreas úmidas para a agricultura, esses dois fatores respondem por cerca de metade das ameaças aos peixes migratórios.
A outra metade é igualmente nociva. A poluição das águas, o impacto das mudanças climáticas, o escoamento das estradas e agricultura e a pesca predatória e insustentável são outras ameaças que impactam na população de peixes de água doce.
Para além de serem parte da dieta e subsistência de milhões de pessoas ao redor do mundo (alimentando comunidades vulneráveis na Ásia, África e América Latina), os peixes de água doce são também importantes componentes de ecossistemas aquáticos.
Esses peixes dependem em sua maioria dos sistemas de água doce para a sua procriação. Enquanto alguns nascem na água doce, vão para o mar, e voltam para a água doce para procriar, outras espécies fazem o caminho reverso. Diversas cruzam rios inteiros até chegar próximo a cabeceira ou riacho em que nasceram.
Segundo um relatório da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), pelo menos um quarto desses peixes de água doce já se encontram em risco de extinção.
“O declínio catastrófico das populações de peixes migratórios é um alarme ensurdecedor para o mundo. Devemos agir agora para salvar essas espécies e seus rios”, conta, em entrevista ao The Guardian, Herman Wanningen, fundador da World Fish Migration Foundation.
“Os peixes migratórios são centrais para as culturas de muitos povos indígenas, alimentam milhões de pessoas em todo o mundo e sustentam uma vasta rede de espécies e ecossistemas. Não podemos continuar a deixá-los desaparecer silenciosamente”, completa.
Diante desse cenário, os pesquisadores propõem o monitoramento e novas estratégias para a conservação e recuperação das espécies de peixes. Dentre elas está o gerenciamento da pesca, a criação de santuários, a restauração dos habitats e a remoção de barreiras e represas nos rios.
A adoção de fontes de energia renováveis alternativas pode ser uma solução para ajudar na recuperação das espécies ameaçadas. No ano passado, por exemplo, cerca de 15 países europeus removeram 487 represas espalhadas em todo o continente.