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Produtos químicos tóxicos dos pneus dos carros podem contaminar solos e alimentos

Em um ano, o desgaste dos pneus gera cerca de um quilo de poeira por pessoa, com a presença de uma grande quantidade de compostos químicos.

Por Caio César Pereira
4 Maio 2024, 14h00
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  • Não bastasse a poluição por microplásticos e por gases poluentes, pesquisadores descobriram que outro elemento comum do nosso cotidiano também pode contaminar o ecossistema: a borracha dos pneus de carros. 

    O estudo, publicado na Reunião da União Europeia de Geociências de 2024, revela que os pneus de borracha dos carros possuem aditivos químicos que se infiltram no solo. Ao contaminarem os solos, esses produtos químicos tóxicos são absorvidos pelas plantas, e podem acabar nos alimentos que nós consumimos.

    Para além dos elementos presentes nas formas naturais e sintéticas da borracha, os pneus podem conter ainda centenas de outros compostos químicos. Os pesquisadores explicam que como não existe uma regulamentação sobre o que é adicionado aos pneus, os fabricantes de pneus não revelam o que é exatamente adicionado.

    Ao se desgastar, os pneus acabam gerando uma grande quantidade de poeira. Por ano, o desgaste dos pneus gera cerca de um quilo de poeira por pessoa, e nessa nuvem de poeira estão presentes uma grande quantidade de compostos.

    Algumas estimativas mostram que pelo menos metade dos microplásticos que entram em rios, lagos e mares, e 80 por cento dos microplásticos no ar são derivados da deterioração de pneus.

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    Essa poeira pode ser prejudicial de duas formas. Primeiro que ela pode ser inalada por pessoas próximas ou em estradas movimentadas, ou o vento pode levar essa poeira diretamente para os campos.

    Segundo que essa poeira pode se misturar com a água e aí se infiltrar no solo. O escoamento da água das estradas muitas vezes vai para sistemas de esgoto. E em muitos países, o próprio lodo do esgoto – chamado de biossólidos – é aplicado nos campos.

    Isso, sem falar que a água recuperada dos sistemas de esgoto, muitas vezes também é utilizada para a irrigação, como em certos lugares na Europa. Mesmo com as estações de tratamento limpando a água utilizada, elas nem sempre conseguem remover os compostos solúveis derivados de pneus.

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    Apesar dos pesquisadores acreditarem que ainda é cedo para dizer qual o tamanho do risco proveniente da ingestão dos alimentos, isso é algo que pode mudar em um futuro próximo.

    “As partículas provenientes do desgaste dos pneus são uma grande preocupação ambiental e de saúde, e em alguns casos maior do que a poluição plástica”, conta a New Scientist, Thilo Hofmann, pesquisador da Universidade de Viena, na Áustria, e um dos autores do estudo. “O risco para a saúde humana é desconhecido, mas precisamos agir agora e restringir a poluição química plástica.”

     

     

    Os pesquisadores ainda realizaram um experimento para descobrir se de fato os compostos químicos tóxicos dos pneus podem chegar à comida. No experimento, foram adicionados quatro aditivos de pneus em alfaces cultivadas em vasos em uma estufa.

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    Após três semanas, eles testaram as folhas, e viram que três dos quatro compostos foram encontrados, com os níveis variando de acordo com o tipo de solo cultivado. “A mensagem aqui é muito simples. Esses compostos são absorvidos sob condições de crescimento realistas”, diz Hofmann.

    De acordo com os pesquisadores, até que seja possível assegurar que os pneus sejam feitos com elementos químicos não tóxicos, é necessário realizar uma espécie de controle para a dispersão generalizada da poeira dos pneus.

    As alternativas levantadas pela equipe falam em tratar o escoamento das águas das estradas e introduzir filtros nas cavidades das rodas para capturar o pó dos pneus. Isso, além da atitude dos fabricantes, de alterar a composição dos pneus com elementos que possam minimizar o desgaste.

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    Para Luzian Hämmerle, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Viena, outra solução estaria também na diminuição da quantidade de carros: “Reduzir o número total de carros nas estradas públicas e investir mais em transporte público também ajudaria.”

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