Você provavelmente pensa em cachorros quando o assunto é auxílio animal em missões de busca e resgate. Mas ratos gigantes africanos também podem ser úteis para encontrar vítimas de desastres sob escombros. É o que propõe uma organização sem fins lucrativos chamada APOPO (sigla em holandês para “Desenvolvimento de Produtos para Remoção de Minas Terrestres Anti-Pessoal”).
Os ratos da espécie Cricetomys ansorgei são endêmicos da Tanzânia, onde fica a sede da APOPO. Como cães, eles têm olfato apurado e são capazes de passar por treinamentos específicos. Mas apresentam algumas vantagens: podem trabalhar com vários treinadores, são relativamente fáceis de se transportar e têm maior agilidade.
Por isso, os ratos são protagonistas de projetos humanitários da APOPO há duas décadas. Eles são criados e treinados para detectar tuberculose em amostras de escarro humano em países como Tanzânia e Etiópia ou farejar minas terrestres em Camboja, Moçambique e Angola.
Os animais que podem salvar vidas são chamados de HeroRats (“ratos heróis”). Um deles era Magawa, que faleceu em janeiro aos oito anos de idade e ficou famoso por encontrar mais de 100 minas terrestres e outros explosivos durante seu tempo de serviço.
Agora, a organização investe em um novo objetivo. Ela começou a treinar alguns ratos para missões de busca e resgate em 2021, e a expectativa é que eles entrem em ação na Turquia, já no próximo ano – explorando destroços equipados com pequenas mochilas que permitam seu rastreamento.
Como é o treinamento
Os ratos criados pela APOPO passam primeiro pela fase de socialização, em que se acostumam com os ambientes de treinamento e seus cuidadores. Então, são apresentados a uma associação básica: aprendem que, ao ouvir um som emitido pela equipe (um “bipe”), devem ir de encontro ao treinador para ganhar uma recompensa.
Esse é o ponto de partida para ensinar diferentes comandos aos ratos. No caso dos RescueRats (ou “ratos de resgate”), os treinadores equipam os animais com pequenas mochilas que possuem uma bola de borracha conectada a um microinterruptor.
Em ambientes que simulam uma situação de resgate, os ratos aprendem a puxar a bolinha da mochila quando encontram uma suposta vítima – e voltam para onde foram liberados quando ouvem o “bipe” emitido pelo treinador. Você pode assistir a uma sessão de treinamento no vídeo abaixo.
Como poderá funcionar
Em uma situação real de resgate, o rato acionaria o microinterruptor puxando a bola de borracha quando encontrasse uma vítima. O interruptor, por sua vez, emitiria um sinal para os socorristas, avisando-os da descoberta.
Por enquanto, as mochilas usadas pelos roedores são protótipos, mas engenheiros da Eindhoven University of Technology (na Holanda) estão desenvolvendo um novo modelo, que inclui transmissor de localização, câmera de vídeo e um sistema que permite a comunicação com o sobrevivente.
A ideia é que os ratos de resgate sejam introduzidos em um local depois que as equipes de busca humana e canina já tenham explorado os destroços. Os pesquisadores também planejam maneiras de identificar os RescueRats às possíveis vítimas – talvez a partir de uma mensagem de áudio pré-gravada, reproduzida quando o rato puxar a bola em sua mochila, por exemplo.