A colonização da Lua está nos planos de agências espaciais e empresários, mas não é algo tão fácil de se concretizar. Primeiro, é necessário entender as condições que o satélite reserva a nós e estudar como podemos nos adaptar a elas. Uma maneira de fazer isso é recriar o ambiente selenita na Terra. Para isso, construímos biosferas: espaços restritos onde humanos confinados sobrevivem reaproveitando eternamente os mesmos recursos, sem interferência externa.
Parece estranho, mas nosso planeta é exatamente isso: uma enorme estufa planetária, em que os átomos de seres vivos mortos são reciclados em novos seres vivos, e a água circula eternamente pelo mar, pelas nuvens e por nossos corpos. O peso da Terra não muda conforme nascem bebês e construímos coisas.
O Yuegong-1, também conhecido como Palácio Lunar 1, é uma bioesfera chinesa. Entre 2017 e 2018, dois grupos de quatro alunos voluntários da Universidade Beihang viveram por cerca de um ano neste local. Uma das equipes passou 200 dias sem precisar de nenhum material externo, mantendo-se apenas pela reciclagem de resíduos. Agora, o relato completo dessa aventura está disponível em um artigo científico, que ainda não passou por revisão, mas está disponível no bioRxiv.
O Palácio Lunar 1 é formado por três módulos, sendo dois destinados ao cultivo de alimentos e o terceiro à moradia dos tripulantes. As plantas servem não apenas como alimento, mas também geram o oxigênio e retiram o dióxido de carbono do ambiente. Toda a água do local é tratada em biorreator e esterilizada com luz ultravioleta para que possa ser usada novamente para irrigação, enquanto a água potável passa por esterilização.
Os resíduos vegetais são usados para cultivar cogumelos, que servem de alimento para larvas da farinha – as quais são transformadas em uma espécie de pão rico em proteína. Até mesmo a urina e as fezes dos moradores são utilizadas como fertilizantes.
O espaço conta com 40 metros quadrados de área de cultivo por membro da tripulação. Nesse último experimento, eles utilizaram o espaço para plantar batata, cenoura, pepino, tomate, morango e trigo. Os níveis de gás permaneceram em um limite seguro durante todo o período e os cientistas afirmam que nenhum dos voluntários desenvolveu qualquer tipo de problema físico ou mental.
Os dois grupos de voluntários se revezaram na estadia na biosfera. No total, foram 370 dias de habitação contínua. De acordo com os pesquisadores, os voluntários obtiveram 98% dos materiais de que precisavam por meio da reciclagem – só 2% dos recursos utilizados vieram de fora. Esses produtos extras incluíam sementes, papel higiênico e materiais de limpeza.
Não é a primeira vez que simulações assim são feitas na Terra. Na verdade, essa história começou há bastante tempo, na década de 60, com os experimentos russos nos ecossistemas chamados BIOS. Anos depois, na década de 90, foi instalada Biosfera 2 no Arizona. Ela foi monitorada por dois anos, mas fracassou, já que houve a necessidade de fornecer comida e oxigênio extra para os habitantes. O Japão também realizou experimentos do tipo nos anos 2000.
A Nasa também está estudando o cultivo de plantas no espaço, utilizando os laboratórios da Estação Espacial Internacional. A diferença é que, por enquanto, os esforços americanos visam apenas complemento nutricional, e não estabelecer uma fonte de alimentação única.
A Administração Espacial Nacional da China tem como meta enviar seus astronautas à Lua até 2030. Depois disso, pretendem instalar uma base permanente próxima ao polo sul do satélite, uma região rica em gelo.