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Turismo de luxo contribui para poluição dez vezes maior na Antártida

Crescimento observado nas últimas décadas se deve também às bases científicas ativas por muito tempo. Entenda os possíveis impactos ambientais no continente.

Por Luiza Lopes
22 ago 2025, 16h00

A Antártida, considerada uma das últimas fronteiras intocadas do planeta, está sob crescente pressão da atividade humana. Um recente estudo, publicado na revista Nature Sustainability, revelou que a poluição no continente gelado aumentou significativamente nas últimas décadas.

Os dados apontam que, em áreas onde a presença humana é mais intensa, a concentração de partículas finas contendo metais pesados é hoje dez vezes maior do que há 40 anos.

A transformação está ligada a um fenômeno recente e acelerado: o aumento do fluxo de visitantes. Segundo a Associação Internacional de Operadores de Turismo da Antártida (IAATO), o número de turistas por ano saltou de 44 mil em 2017 para mais de 120 mil em 2024. 

Esse turismo de massa trouxe consigo uma mudança no perfil das viagens. Se, no passado, visitar o Polo Sul significava embarcar em navios simples e enfrentar condições duras, hoje a experiência é marcada por luxo e conforto. 

Companhias como Ponant, Silversea e Seabourn oferecem suítes sofisticadas, spas, restaurantes de alto padrão e até champanhe diante dos icebergs. “A indústria está em expansão e há uma grande diversificação de atividades, que incluem caiaque, submersíveis e helicópteros”, disse à BBC a professora Elizabeth Leane, da Universidade da Tasmânia.

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Mas essa busca pela exclusividade tem um custo ambiental elevado. Os navios que transportam turistas ainda dependem, em sua maioria, de combustíveis fósseis altamente poluentes, que liberam partículas de níquel, cobre, zinco e chumbo. 

“A neve derrete mais rápido na Antártida devido à presença de partículas poluentes em áreas frequentadas por turistas”, explicou à AFP Raul Cordero, coautor do estudo e cientista da Universidade de Groningen, na Holanda. Ele calcula que “um único turista pode contribuir para acelerar o derretimento de cerca de 100 toneladas de neve”.

O problema não se limita aos visitantes ocasionais. Bases científicas que permanecem ativas por longos períodos podem ter impacto até dez vezes maior que o de um turista individual, segundo o mesmo estudo. 

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Além das emissões, pesquisadores têm identificado contaminação por carbono negro, resultado da queima de combustíveis fósseis e biomassa, que escurece a neve e intensifica seu derretimento. Um artigo publicado na Nature em 2022 mostrou que os pontos próximos a estações de pesquisa e áreas de desembarque turístico apresentam índices significativamente mais altos desse poluente.

O aumento da atividade humana traz ainda outros riscos, como a introdução de espécies invasoras e patógenos. Diversos estudos já documentaram sementes e microrganismos transportados nas roupas e equipamentos dos turistas. 

Dana Bergstrom, ecologista especializada em Antártida, alertou em entrevista à BBC: “Os riscos são reais. Uma espécie invasora de gramínea se estabeleceu em uma das Ilhas Shetland do Sul, na Antártida, enquanto a gripe aviária chegou recentemente às Ilhas Subantárticas, onde teve um efeito devastador na população de focas”.

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As companhias de turismo afirmam estar cientes dos riscos e têm adotado medidas de mitigação. A IAATO impõe limites, como autorizar no máximo 100 pessoas a desembarcar em um sítio de cada vez, e estabelece protocolos de esterilização de roupas e equipamentos. 

Ainda assim, os números mostram que a pressão tende a aumentar. A temporada 2023-2024 marcou o maior volume de visitantes da história, e a oferta de cruzeiros de luxo segue em expansão, com embarcações cada vez maiores e mais sofisticadas. Segundo a CNN, há navios com capacidade para mais de 400 turistas operando regularmente na região.

Além da poluição causada pela presença humana, a Antártida enfrenta os efeitos das mudanças climáticas. Outro estudo, também publicado na Nature, advertiu que alterações irreversíveis no continente podem levar a um aumento de metros no nível dos oceanos, com “consequências catastróficas por gerações”. 

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A perda acelerada de gelo ameaça não apenas o equilíbrio ecológico local, mas a estabilidade de todo o sistema climático global. O continente concentra mais de 60% de toda a água doce do planeta, regula a circulação atmosférica e desempenha papel fundamental na absorção de dióxido de carbono pelos oceanos.

Diante desse cenário, cresce a pressão por medidas mais rígidas de proteção. Especialistas defendem acelerar a transição energética nos navios, limitar o número de visitantes e reforçar a governança do Tratado da Antártida, que desde 1959 regula a presença humana no continente. 

A Nature destacou em editorial que a fragilidade desse sistema, baseado em consensos, pode abrir espaço para exploração descontrolada e disputas geopolíticas, caso não se adapte às exigências do século 21.

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