Na última quarta (21), um grupo de astrônomos da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, anunciou a descoberta de um novo buraco negro. Pode soar como uma notícia corriqueira (isto é, se você considerar corriqueiras as descobertas de objetos que engolem até a luz), mas o achado em questão chamou a atenção dos cientistas por dois motivos.
O primeiro é a distância. O buraco negro é o mais próximo da Terra já encontrado: está a apenas 1,5 mil anos-luz daqui. Parece muito, mas não é. A título de comparação, a distância entre o Sistema Solar e o centro da nossa galáxia, a Via Láctea, é de, aproximadamente, 28 mil anos-luz.
O segundo motivo é o seu tamanho – um dos menores já registrados. Segundo o estudo, publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, o buraco negro possui “só” três vezes a massa do nosso Sol.
Isso o coloca bem atrás em comparação aos buracos negros supermassivos, com milhões (até bilhões) de vezes a massa do Sol. Mas essa não deve ser nossa régua de comparação, pois os supermassivos são exceção. A maioria dos buracos negros são os chamados estelares, que se formam a partir de estrelas idosas e são bem menores.
O interessante, portanto, é que ele é pequeno até para os padrões de pequenez: buracos negros estelares, em geral, têm algumas dezenas de massas solares, e não apenas três. Esse filhote está no limite inferior da existência de buracos negros; qualquer coisa com menos massa seria levinha demais para colapsar gravitacionalmente e formar um.
O novo buraco negro foi apelidado de “O Unicórnio”. Fofo, não? O nome vem tanto das suas características únicas e raras quanto pela sua localização: a constelação de Unicórnio (Monoceros), vizinha de constelações como a de Gêmeos, Órion e Cão Maior.
Dupla dinâmica
O Unicórnio não foi encontrado sozinho. Ele tem uma parceira: uma estrela gigante vermelha que está inchada, o que significa que está no fim da vida – algo que acontecerá com o Sol daqui uns 5 bilhões de anos. A estrela orbita o buraco negro, e foi a responsável por sua descoberta.
Encontrar objetos que não emitem luz em pleno espaço sideral é o cúmulo da expressão “agulha em um palheiro”. Para achar buracos negros, os cientistas precisam observar as perturbações que esses corpos geram no seu entorno, como emissões de raios-x ou a geração de ondas gravitacionais (perturbações no tecido do espaço-tempo causadas por uma grande liberação de energia, um fenômeno previsto por Einstein e confirmado em 2015). Mas é claro: quanto menor um buraco negro, mais difícil detectar tais perturbações.
É aí que a gigante vermelha entra na jogada. A estrela já havia sido observada anteriormente por diversos telescópios, como o KELT, localizado em Ohio, e o satélite TESS, da Nasa, que buscam exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar). Mas o pesquisador Tharindu Jayasinghe, líder do estudo, e sua equipe notaram, pela primeira vez, algo curioso nos dados daquele astro: em alguns pontos de sua órbita, a luz da estrela mudava de intensidade e aparência.
Era como se algum outro objeto tivesse atração gravitacional grande o suficiente para puxá-la, alterando a sua forma – como na imagem que abre este texto. Os dados sobre a estrela já existiam há tempos, mas foi a primeira vez que uma equipe sugeriu a hipótese da causa da distorção ser um pequeno buraco negro. Até pouco tempo atrás, astrônomos duvidavam que buracos negros desse tamanho pudessem existir.
“Assim como a gravidade da Lua distorce os oceanos da Terra, interferindo nas marés, o buraco negro distorce a estrela, deixando-a com essa aparência oval de uma bola de futebol americano”, disse em comunicado Todd Thompson, co-autor do estudo chefe do departamento de astronomia da Universidade Estadual de Ohio.
Mas é claro: como tudo na ciência, ainda serão necessárias mais observações até que se possa cravar que o Unicórnio é, de fato, um buraco negro. Por ora, oficialmente, ele é um candidato – um fortíssimo candidato, diga-se.
Pela maneira como foi conduzida, a nova pesquisa pode ajudar os astrônomos a encontrar outros buracos negros pequenos que podem ter passado despercebidos por aí. Isso ajudará a entender a formação desses corpos, dos nanicos aos supermassivos. Como explicamos neste texto, estudar os buracos negros pequenos e intermediários é a chave para compreender os gigantes.