Os acidentes de avião causados por aves são tão antigos quanto o próprio avião. O primeiro registro de uma colisão fatal entre pássaro e máquina aconteceu em 1912 – meros 6 anos após o voo do 14-Bis (e 9 depois dos irmãos Wright, sejamos justos). Esse acidente vitimou Calbraith Rodgers, um pioneiro da aviação americana, que caiu no mar em Long Beach, Califórnia, após chocar sua aeronave com um bando de gaivotas. De lá para cá, o problema ficou conhecido como “perigo aviário”, e continua perturbando aeroportos do mundo inteiro — em 2014, os EUA detectaram mais de 13 mil incidentes de aves contra aviões. Mas cientistas franceses parecem ter encontrado uma solução inusitada para o problema: uma ilusão de ótica que afasta aves de rapina.
Aves grandes são as maiores inimigas das turbinas de aviões. A SUPER já explicou, na reportagem Como cai um avião, que turbinas de aeronaves são projetadas para suportar colisões contra alguns tipos de pássaro, mas isso não inclui bichos grandes, como águias e falcões.
Em uma iniciativa para encontrar estratégias contra essas aves, uma equipe de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, no original em francês) e da Universidade de Rennes, aplicaram conhecimentos de fisiologia aviária ao problema. Aproveitando o poderoso sistema visual das aves de rapina — que é cerca de 2 a 8 vezes mais aguçado que a visão humana –, os cientistas desenvolveram uma ilusão de ótica para afastar os pássaros dos aeroportos.
Para desenvolvê-la, os pesquisadores realizaram mais de 300 testes com esses pássaros, usando diferentes tipos de ilusões de ótica. Veja alguns modelos usados no estudo:
Entre todos, apenas um padrão resultou na repulsa das aves de rapina: um par de olhos arregalados crescendo. Veja no vídeo a seguir:
Ok, pode até não parecer tão ameaçador para seres humanos, mas os cientistas acreditam que isso se apresenta como uma ilusão de ótica para as aves. Para elas, não são apenas dois olhos: são outras aves se aproximando em alta velocidade, o que representa um risco iminente de colisão. Por isso, elas fogem.
Depois desse resultado, os pesquisadores levaram os olhos gigantes ao Aeroporto Lourdes-Tarbes-Pyrénées, na França, que é muito frequentado por aves de rapina e outros pássaros. Eles queriam testar a eficácia da ilusão de ótica em um ambiente real. Os cientistas colocaram os olhos em um par de telas LED, posicionadas estrategicamente no primeiro local que as aves conseguem ver assim que se aproximam do aeroporto.
A equipe, então, registrou o comportamento de 8.800 pássaros, ao longo de cinco semanas. E a ilusão funcionou incrivelmente bem: mais da metade das aves (55%) deu meia volta quando viu as telas de LED – e seus olhos arregalados. E um detalhe importante: os pássaros não mostraram sinais de terem “se acostumado” com os olhos (ou seja, perdido o “medo”), mesmo depois de mais de um mês de experimento.
Este estudo é o primeiro a mostrar a eficiência de um sistema visual inofensivo. A ilusão de ótica impediu que as aves de rapina se aproximassem sem causar nenhum prejuízo ao aeroporto – nem às aves.