Quando o cigarro eletrônico surgiu, foi vendido como um revolucionário método anti-fumo. Pode parecer contraditório, mas o objetivo era que fumantes fossem perdendo o vício aos poucos, pois as doses de nicotina usadas no aparelho podem ser controladas (e até diminuídas) dependendo do cartucho consumido – já explicamos como os e-cigarettes funcionam, confira aqui. Mas isso não é consenso entre os cientistas, e, no Brasil, o aparelho nunca foi liberado pela Anvisa.
Agora, um novo estudo pode confirmar as ressalvas da vigilância sanitária: cientistas descobriram que o vapor dos cigarros eletrônicos estimula a produção de substâncias químicas inflamatórias e desativa as principais células protetoras do pulmão, deixando uma parte importante do órgão à mercê de partículas nocivas.
Essas células prejudicadas são chamadas macrófagos alveolares – um tipo de célula de defesa encontrada em uma parte essencial dos pulmões, os alvéolos -, e a elas cabe a tarefa de remover partículas de poeira, bactérias e alérgenos. Os resultados do estudo sugerem que os cigarros eletrônicos podem ser mais prejudiciais do que se pensava, já que os efeitos encontrados são semelhantes aos observados em fumantes regulares e pessoas com doenças pulmonares crônicas.
Para se chegar a essas afirmações, o estudo recriou o mecanismo usado nos cigarros eletrônicos. Assim como os e-cigarettes, as máquinas de teste usam o calor produzido por baterias para vaporizar um líquido (que o fumante inala ao tragar). Normalmente, os fluidos possuem glicerina, aromatizantes e nicotina. Os cientistas também extraíram macrófagos alveolares de amostras de tecidos pulmonares fornecidas por oito pessoas não fumantes – e que nunca tiveram asma ou outras doenças pulmonares.
No estudo, um terço das células foi exposto ao fluido de cigarros eletrônicos, um terço a vapor condensado e outro terço foi um grupo de controle, exposto a nada, durante 24 horas.
Os resultados mostraram que o vapor condensado foi muito mais danoso às células que o líquido, com a capacidade dos macrófagos de englobar partículas claramente prejudicada. Também foi notado um aumento na produção de substâncias inflamatórias. “Eu não acredito que os cigarros eletrônicos sejam mais danosos que os tradicionais”, disse David Thickett, autor do estudo. “Mas nós devemos ser céticos de que eles sejam tão seguros quanto estamos sendo levados a acreditar.”
É fato que o vapor dos cigarros eletrônicos possui bem menos substâncias cancerígenas que a fumaça do cigarro tradicional. Mas, a longo prazo, esse vapor pode deixar o sistema respiratório bem mais frágil e suscetível a doenças sérias. Em suma: o cigarro eletrônico não é tão inofensivo quanto se diz por aí.