Alguns cientistas não têm dificuldade nenhuma em encontrar seus objetos de estudo. É o caso do famoso astrofísico Eugene Parker – que abria a janela todo domingo, olhava para o céu azul e dava de cara com a mesma coisa que tinha estudado a semana toda: o Sol. Será que ele se sentia perseguido pelo trabalho?
Já os cientistas do Projeto Nightjar, sediado na Universidade de Exeter, na Inglaterra, fazem o oposto. Se dedicam a estudar algo que tenta deliberadamente fugir do nosso campo de visão: aves e ovos camuflados. O grupo concentra esforços no grupo de pássaros que lhe dá nome: os nightjars (em português, noitibós), família que inclui os brasileiríssimos bacuraus. Veja um abaixo – ou não.
Em um estudo recém-publicado, eles descobriram que esses pássaros têm consciência da “pintura” do próprio corpo, e escolhem exatamente em qual ponto da paisagem vão se posicionar para desaparecer aos olhos dos predadores. Os testes de campo foram feitos na Zâmbia, na África. “Talvez eles olhem para si próprios, para os ovos e para o ambiente e julguem se é um bom lugar para fazer um ninho”, explicou à imprensa Martin Stevens, um dos autores do estudo. “Ou talvez eles aprendam com o tempo, escolhendo lugares em que os ovos não são comidos [por predadores].”
O grupo também se dedica a estudar os plovers (subfamília Charadriinae) e os coursers (família Glareolidae). O principal, nesse caso, não são os pássaros em si, mas seus ovos.
Para ter uma ideia do quanto a camuflagem é eficiente para esconder os futuros filhotes, dê uma olhada na sequência de fotos abaixo e se imagine na posição de um predador. Há três ovos de crowned plover (Vanellus coronatus) em algum lugar da paisagem – a câmera está a 10 metros de distância deles.
Não viu? Um zoom para 5 metros de distância pode ajudar.
Os contornos e a diferença de cor só ficam realmente evidentes de distâncias muito pequenas.
Às vezes o ambiente dá uma mãozinha aos pais que querem proteger seus futuros filhotes. Você consegue encontrar os ovos em meio às conchas?
Os filhotes também podem se camuflar depois da eclosão dos ovos. Nesse caso, eles não tentam desaparecer no ambiente – o truque da evolução biológica foi torná-los mais parecidos com objetos desinteressantes comuns em seu habitat. É o caso dos pequenos noitibós-de-pescoço-dourado abaixo, que são parecidos com os envoltórios de sementes peludas como esta aqui.
Muitas vezes, o mais importante da camuflagem não é a semelhança entre cor do animal e a do ambiente, mas os pontos de preto em suas penas, que simulam as sombras e quebram os contornos.
Segundo os pesquisadores, esses pássaros são ideais para pesquisa científica porque, apesar da camuflagem, costumam construir seus ninhos no chão – o que facilita fotografias como essas.