Nosso vizinho amarelo pode compartilhar mais semelhanças com a Terra do que se imaginava. Um estudo feito pela NASA revelou diversos cenários em que Vênus seria capaz de abrigar água líquida e ainda manter temperaturas amenas e estáveis – a base do que precisamos para sobreviver.
Pesquisadores do Instituto Goddard de Ciência Espacial da NASA propuseram cenários diferentes e simularam como o planeta responderia a cada um deles. A pesquisa foi apresentada no Congresso de Ciência Planetária Europeu, que ocorreu entre 15 e 20 de setembro na Suíça.
Atualmente, Vênus é completamente inabitável. Sua atmosfera é extremamente densa e quente, mantendo uma temperatura de 467 graus celsius na superfície – mais do que o suficiente para derreter chumbo. Para completar, as nuvens são formadas por gotas de ácido sulfúrico, o que tornam as chuvas bem menos refrescantes do que as daqui da Terra.
Mas nem sempre foi assim. Segundo o estudo, o planeta pode ter sido perfeitamente habitável por longos dois ou três bilhões de anos, e foi apenas 700 milhões de anos atrás que ele adquiriu as características hostis de hoje.
As simulações foram baseadas na topografia atual do planeta, levando em consideração as depressões que podem ter abrigado oceanos de água líquida. Os cenários consideraram a existência de um mar de 310 metros de profundidade, outro com apenas 10 metros e um último caso em que a água estaria presa no subsolo. Nas três simulações, os cientistas concluíram que o planeta poderia manter uma temperatura entre 20 e 50 graus celsius.
Mas o que teria acontecido para provocar uma mudança tão drástica nas condições do planeta?
Ainda não se sabe ao certo, mas os cientistas têm algumas hipóteses. Vênus foi formado há mais de 4 bilhões de anos. Assim como a Terra, ele se resfriou e formou uma atmosfera repleta de dióxido de carbono. Esse gás foi absorvido e “preso” por rochas durante 2 ou 3 bilhões de anos. Resultado: uma atmosfera parecida com a nossa, com muito nitrogênio relativamente pouco CO2; a da Terra tem 78% nitrogênio e 0,04% de carbono – o oxigênio (20%) foi, e ainda é, produzido por formas de vida fotossintéticas.
No entanto, algo aconteceu entre 750 e 700 milhões de anos atrás. Aquele dióxido de carbono que estava aprisionado acabou se soltando e dominando a atmosfera novamente. CO2 demais, você sabe, traz a nefasta consequência de aprisionar o calor do Sol na atmosfera. Efeito estufa. E foi esse aquecimento global em escala grandiosa que teria feito a temperatura saltar de 20, 30 graus celsius para mais de 400 graus.
O que causou a liberação do gás ainda é um mistério. Os cientistas acreditam que a resposta esteja nos vulcões. As erupções teriam liberado o dióxido de carbono preso nas rochas. O magma possivelmente se solidificou e criou uma “barreira”, impedindo que o gás fosse reabsorvido.
Por enquanto, essa é apenas uma hipótese e está longe de responder todas as perguntas sobre Vênus. Para entender melhor esse processo, os cientistas pretendem pesquisar o quão rápido o planeta se resfriou e se houve tempo o suficiente para que ele a realmente formasse água líquida.
Os estudos também precisam considerar a possibilidade de que o gás tenha sido liberado ao longo do tempo por meio de pequenos acontecimentos, ao invés de um único mega evento cataclísmico.
A pesquisa abre a possibilidade de estudar outros planetas de fora do Sistema Solar que poderiam ter sido habitáveis. Exoplanetas que estão na mesma distância do sol que Vênus poderiam ter água, temperaturas amenas e, possivelmente, serem candidatos a abrigar vida.