Como o Mais Médicos escancara a desigualdade nacional
Existem dois Brasis: um onde salário de R$ 12 mil é considerado baixo; e outro onde condições básicas de saúde são um luxo inacessível.
O Mais Médicos teve 1.052 desistências nos últimos 3 meses. 15% da força de trabalho do programa não suportou ganhar R$ 12 mil por 40 horas semanais.
Tendo em vista que a média salarial do país é um sexto disso, a notícia, divulgada no final da semana passada, causa alguma surpresa. Mas o meu ponto aqui não é criticar os médicos. Se o profissional acha que R$ 12 mil não bastam, então não bastam. Pronto. Até existe uma lei aí, de 13 de maio de 1888, que coíbe severamente a ideia de obrigar alguém a trabalhar por menos do que acha justo sem o direito de pedir demissão.
O governo, então, que se vire para atrair mais médicos, observando a Lei Áurea na eventualidade de precisar de profissionais estrangeiros, e, provavelmente, pagando salários maiores – os 16 mil juízes que existem no Brasil ganham, em média, quase R$ 50 mil, bem mais do que o teto do funcionalismo público; e faz todo o sentido argumentar que um médico vale por 100 juízes.