Medida em estudo pelo CDC vai na contramão da norma atual, que restringe o uso de máscaras, e poderia ajudar a frear o coronavírus. Mas também envolve novos riscos; entenda
“Isso está passando por uma revisão crítica, para ver se há valor adicional para indivíduos que estão infectados, ou que estão infectados e são assintomáticos”. Foi assim, numa frase cautelosa e meio truncada por jargão, que o médico Robert Redfield, diretor do Centers for Disease Control (CDC), sinalizou a possibilidade de uma mudança drástica no combate ao SARS-CoV-2: passar a recomendar que todas as pessoas utilizem máscaras de proteção.
A declaração, feita à National Public Radio, vai contra a atual orientação do CDC, da OMS e da maioria dos órgãos de saúde nacionais e internacionais, que recomendam o uso de máscara somente por profissionais de saúde, pessoas que apresentem sintomas gripais e/ou tenham sido diagnosticadas com a Covid-19. Na Ásia, a conduta é outra. Em certas regiões da China, primeiro país a dar sinais de controle da pandemia, o uso de máscara é universal e obrigatório – regra que também foi adotada pela Áustria e acabou se tornando norma na Coreia do Sul e no Japão, que vêm conseguindo conter o vírus.
As autoridades de saúde ocidentais têm usado dois argumentos contra o uso irrestrito de máscaras. Se todo mundo tentar comprá-las, sejam do modelo cirúrgico ou do padrão N95 (único que de fato bloqueia o vírus) não haverá máscaras suficientes para médicos e enfermeiros, que já lutam contra a escassez de equipamentos de proteção. A falta de máscaras nos hospitais poderia detonar ondas de infecção entre profissionais de saúde, levando ao colapso dos sistemas de saúde. Além disso, o uso incorreto das máscaras N95, ou a falsa sensação de segurança que podem proporcionar (elas não protegem os olhos, que ficam vulneráveis), poderiam acabar levando a um relaxamento das medidas de isolamento social, agravando a pandemia.
A possível mudança de posição do CDC (que, vale repetir, ainda não se decidiu) está assentada em dois fatores: a crença de que os Estados Unidos conseguirão fabricar ou importar máscaras suficientes para sua população, e a constatação estatística de que pessoas assintomáticas são grandes transmissoras do vírus – que elas possivelmente expelem ao falar, comer e até simplesmente respirar. “Isso ajuda a explicar o quão rapidamente o vírus continua a se espalhar pelo país, porque nós temos transmissores assintomáticos, e temos indivíduos que transmitem o vírus nas 48 horas antes de se tornarem sintomáticos”, afirmou Redfield.