Infelizmente, para desespero de editores de guias de viagem, não existe um manual ou conjunto de regras que definem esses limites. Na verdade, o ato de nomear faixas de terra é completamente subjetivo, como explica Marcia de Almeida Mathias, gerente do Centro de Referência em Nomes Geográficos, do IBGE. A especialista conta que os nomes vêm, na maioria das vezes, da época de ocupação do trecho da praia:
“Por mais que geograficamente seja a mesma praia, cada trecho tem seu nome porque foram ocupados por pessoas diferentes e/ou em épocas diferentes”, explica Marcia. O nome pode estar relacionado à cultura, às características do lugar e à história da ocupação. Muitas vezes também coincide da praia receber o nome do bairro no qual está localizada, mas isso não é regra. Por exemplo, a famosa praia de Ipanema está na mesma faixa de areia da praia do Leblon, confundindo assim os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude que estão pouco se lixando para o frio antártico desses dias no Centro-Sul e mergulham no mar mesmo assim.
E, por falar em ocupação, obviamente devemos lembrar dos primeiros homens que pisaram nessas areias. Não há qualquer separação física entre elas, mas, provavelmente, seus nomes são diferentes desde a ocupação indígena desses locais. Tanto “leblon” quanto “ipanema” são palavras de origem tupi-guarani que caracterizam os lugares. Enquanto a segunda significa “água ruim ou rio sem peixes”, a primeira vem da expressão “ilha entre canais de água”. Ambos nomes bem pouco aprazíveis para a especulação imobiliária, problema inexistente uns séculos atrás.
Em suma, menina da praia, vale a lei do bom senso. Se aquele seu app de mapas que você baixou de graça diz que o nome da praia é “Do Siri Cascudo” entre a ponta sul e o riacho do meio e “Do Cidão” entre o riacho do meio e a ponta norte, mas todos os habitantes locais se referem a ela há várias gerações simplesmente como “Do Cidão” de ponta a ponta, qual o nome “certo”? De tempos em tempos, alguns nomes ganham atualizações, que podem vir paulatinamente, de acordo com as mudanças ao longo do tempo, ou repentinas e extraoficiais, soando, às vezes, artificiais. Aí, numa dessas, aquela sua prainha bucólica ganha “sobrenome”, algum “Internacional” da vida para fazer jus aos campos de golfe e helipontos que começam a brotar.