Considerando que o olfato de um cachorro chega a 200 vezes o humano, por que eles comem as fezes de outros cachorros? Seria uma forma bizarra de recompor a flora intestinal?
Carlos R Katcipis Santos
Carlito, na realidade o olfato canino não é 200 vezes mais potente que o humano, mas até 1.000.000, ou seja, um milhão de vezes. É o que explica Fabiano Montiani, coordenador da pós-graduação em Ciências Veterinárias da UFPR. Uma das razões é que temos em torno de 6 milhões de receptores olfatórios, e os cães, cerca de 300 milhões.
Os três principais motivos para comer o próprio COCÔ são:
– déficit de nutrientes no organismo,
– doenças (como anemia causada por lombrigas ou insuficiência pancreática exócrina) e
– problemas comportamentais.
Do ponto de vista nutricional, as fezes podem ter sabor agradável devido à ração do bicho que, em geral, tem substâncias como flavorizantes e palatabilizantes, que a deixam mais apetitosa. Experimente.
Além disso, comer cocô (cropofagia) é uma característica dos lobos, que têm como hábito comer dejetos de animais herbívoros para repor vitamina B da dieta. O hábito dos cães seria, então, uma distorção do comportamento herdado geneticamente do ancestral.
Quando se trata de fatores psicológicos, os motivos são variados. Quando o animal é repreendido por fazer cocô em um lugar proibido, ele pode comê-lo para esconder a prova do ato e não ser xingado. O comportamento também pode ser uma resposta a situações de estresse ou ansiedade, como fome ou restrição de movimentos e de interação social. O cocô serviria para pedir carinho do dono que, ao brigar com o pobre do bicho, lhe destinaria alguns minutos de atenção. Carência não é exclusividade da geração Y, os cães têm de monte.
A coprofagia é mais comum em filhotes, naturalmente mais exploratórios e capazes de ingerir também pedras, tecidos e o que encontrarem pela frente. Quem também pode ter o hábito são as mães, que costumam comer o cocô de seus filhotes antes que eles possam caminhar para limpar o ninho e evitar a presença de moscas ou o crescimento de micro-organismos. Em todos os casos, o hábito é prejudicial. Pode causar irritações, obstruções e perfurações no trato gastrointestinal, traumatismo dentário, parasitoses e doenças intestinais.
Para evitá-la, dê de comer ao seu cão duas vezes ao dia. Evite repreendê-lo por ingerir fezes – ou ele vai pensar que errado é fazer o cocô e vai comê-lo para você não ver o “erro”. Tente condicioná-lo a se aliviar apenas nos passeios. Se mesmo assim ele fizer o número 2 em casa e você pegá-lo comendo a obra, não se desespere. “Tente ignorar e não dar atenção para o cão por longo tempo”, aconselha Montiani. Ao encontrá-las no chão, remova-as de imediato. Outra saída é recompensar o bom comportamento: quando o animal fizer cocô sem ingeri-lo, faça agrados e lhe ofereça comida. Mudar a dieta e trocar de ração pode ser uma solução também. Caso nada dê certo, procure seu veterinário, que pode indicar produtos a serem adicionados na dieta para evitar o mau hábito.