Por que temos a ilusão de ouvir vozes chamando quando a música está alta?
Seu cérebro é ávido por padrões e coisas familiares – e gosta de encontrá-los até onde eles não existem.
![Ilustração de uma pessoa usando fones de ouvido e um fantasminha sussurrando em seu ouvido.](https://gutenberg.super.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/04/SI_426_ORCL_Musica-alta_site.jpg?quality=90&strip=info&w=1024&h=682&crop=1)
Quando as frequências de alguma música nos seus fones, por acidente, lembram as da sua mãe gritando “tá na mesa!”, seu cérebro, ávido por padrões, preenche as lacunas e gera o chamado fantasma. A audição não é só um processo mecânico: envolve um bom grau de interpretação e predição por parte do sistema nervoso.
Vamos explicar melhor. Um meme de YouTube que explodiu em 2015 ajuda a entender por que seu cérebro inventa esses sons onde eles não existem.
Na época, músicos pegavam canções pop e convertiam os arquivos MP3 para um formato chamado MIDI. O MIDI é tipo o arquivo Word (.docx) das partituras. Você toca uma nota Ré no teclado e o Ré aparece na partitura lá na tela do PC. Agora, você pode dar play na partitura e ouvir o Ré com sons sintetizados.
O problema de converter um MP3 para MIDI em vez de você mesmo “digitar” a partitura é o mesmo de pedir para um computador transcrever uma pessoa falando: ele não tem a capacidade interpretativa do nosso cérebro, e só transforma cegamente cada frequência detectada em uma nota.
O resultado é uma maçaroca que lembra vagamente a música original. A graça do meme é que o seu cérebro, conhecendo a música e vendo cenas do clipe, reconhece essas frequências e gera a ilusão de que você está ouvindo os vocais originais no MIDI, onde eles não existem mais.
Faça o teste (você foi alertado: a cacofonia é grande, então vá com calma no volume).
Pergunta de @vini.pellin, via Instagram.
Fonte: Guilherme Delmolin, pesquisador, membro do Grupo de Estudos em Neurociência da Linguagem e Cognição (GELC) e do projeto Neurociência e Música na UFABC.