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Como descobrir se um documento histórico é verdadeiro ou falso?

Por Carolina Vilaverde
Atualizado em 21 dez 2016, 10h37 - Publicado em 7 nov 2012, 16h47

Em setembro, a divulgação de um papiro que faz referência a uma suposta “esposa de Jesus” causou polêmica. O papiro, que está escrito em um antigo idioma egípcio chamado copta, mostra a frase “Jesus disse a eles, ‘Minha esposa (…)’”. A peça, que parece ter sido escrita no século IV, foi apresentada por Karen King, historiadora eclesiástica da Universidade Harvard.

O jornal L’Osservatore Romano, uma publicação oficial do Vaticano, já se posicionou sobre o assunto e disse que o papiro é falso. King pretende usar a técnica de espectroscopia para verificar se ele é verdadeiro. Mas, você sabe como funciona essa técnica? Conversamos com Igor Carvalho, especialista em espectrocospia micromolecular da HORIBA, para entender como é o processo que pode determinar a validade do papiro.

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SUPER: O que é a espectroscopia?
Igor Carvalho: É uma técnica fotônica de alta resolução. Em poucos segundos, você consegue obter a informação química e estrutural da maioria dos materiais disponíveis, sejam orgânicos ou inorgânicos. Por causa disso, é uma técnica que permite a identificação de um material. Ela é muito usada em exames forenses, para determinar se o criminoso esteve no local do crime ou não por meio da comparação das amostras do sapato com o local, por exemplo.


SUPER: Como funciona esse processo?

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Igor Carvalho: A técnica usa uma fonte monocromática de luz, que ao atingir o objeto é espalhada por ele. A maior parte dessa luz dispersada tem a mesma frequência que incidiu. Mas uma pequena porção dessa luz dispersada tem frequência diferente. Essa porção que espalha diferente é chamada de “Espalhamento Raman”, em homenagem ao nome do cientista indiano que descobriu a técnica, Sir C. V. Raman.

É o “Espalhamento Raman” que contém a informação química do material. Como cada material tem suas propriedades, nenhum dispersa igual ao outro. É uma característica intrínseca de cada material e que não depende da luz incidente. O “Espalhamento Raman” é, então, enviado de volta para o equipamento, onde é direcionado para uma câmara que vai fazer a aquisição das informações.


SUPER: Como a técnica vai ser usada no caso do papiro que afirma que Jesus foi casado?

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Igor Carvalho: Se eu tentar falsificar um papiro hoje, basta comparar com um original de museu. Com a técnica, você vai determinar se eles são iguais. Não posso ver a data, mas posso, pelo menos, dizer se a tinta é semelhante ou não. A estrutura química do papiro também pode ser comparada. Se eu tiver um de referência, posso dizer se é semelhante ou não.


SUPER: A técnica pode danificar o documento analisado?

Igor Carvalho: Ela não é destrutiva. Se você incidir um laser de baixa potência sobre o objeto analisado, ela não destrói. Mas, se for aplicada a potência errada, o laser pode queimar a obra. Com uma potência mais fraca, o tempo para a análise é maior. Por isso, geralmente, a coleta de informações acontece com um laser em baixa potência, mas por um período maior de tempo.

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SUPER: Outro caso recente que pode ser analisado pela espectroscopia é o quadro da Mona Lisa dez anos mais jovem, que foi apresentado também em setembro. Como a técnica pode ajudar a desvendar se ele foi pintado por Leonardo da Vinci?
Igor Carvalho: O “Espalhamento Raman” não pode dizer a data em que o quadro foi pintado, mas pode dizer se a tinta usada é semelhante à do quadro que está no Museu do Louvre.

A tinta usada há 100 anos não é a mesma utilizada hoje. Ela pode até ser parecida, mas tem características diferentes. Se foi pintada por um aluno do Da Vinci, certamente as tintas terão as mesmas características, porque foram feitas na mesma época. Se for recente, o “Espalhamento Raman” pode dizer que não é daquela época.


SUPER: O verniz do quadro pode atrapalhar essa identificação?

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Igor Carvalho: A técnica é capaz de identificar o verniz que foi usado no quadro. O verniz não atrapalha, já que o foco do equipamento é capaz de atravessar o verniz e chegar à informação que está embaixo.

Imagens: Karen L. King e Divulgação/HORIBA

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