A maior piada interna da história da ciência atende pelo nome de Steve.
E, embora seja uma piada, ela diz muito sobre como é difícil combater os pseudocientistas (a saber, grupos como os terraplanistas e as companhias de água e esgoto britânicas – que andam usando o princípio dos tabuleiros de Ouija para encontrar canos furados).
A história começa assim: em um belo dia de 1994, um grupo de criacionistas – pessoas que acreditam que Deus criou girafas, hipopótamos e pessoas em sete dias – se uniram em uma associação chamada Answers in Genesis (em português, “Respostas no Gênesis”).
A AiG foi pioneira de uma moda que se espalhou rapidamente nos círculos pseudocientíficos: criar listas com os nomes de “cientistas que discordam de Darwin” ou de “cientistas que não acreditam na teoria da evolução”, em uma tentativa de provar para o grande público que a seleção natural não é um consenso entre pesquisadores – e que o primeiro livro da Bíblia, portanto, teria uma chance no meio acadêmico.
Desde então, até os setores que discordam do aquecimento global pegaram carona na ideia e fizeram suas próprias listas de dissidentes. O problema delas (além do fato de que só uma parcela pequena dos signatários é mesmo cientista) é que, para a ciência, a quantidade de pessoas que acreditam em algo tem muito pouco a ver com a possibilidade de que esse algo seja verdade. Experimentos e observações são bem mais importantes que votações, e fatos provados continuam sendo verdade mesmo que você não acredite neles.
Não preciso nem dizer, porém, que o parágrafo acima não convence ninguém. Muitas instituições de ensino e pesquisa, a título de provocação, foram (e ainda são) convidadas por AiGs e afins a fazer suas próprias listas de apoiadores da teoria de Darwin. E um desses convites chegou no Centro Nacional para Educação Científica (NCSE), que resolveu reagir com… ele mesmo, o projeto Steve.
“Nós poderíamos fazer isso [montar uma lista], mas resistimos. Nós não queremos levar o público a acreditar que questões científicas são decididas com base em quem tem a maior lista de cientistas”, afirma o site oficial da instituição. A solução foi pegar o nome de um dos maiores biólogos evolucionistas da história – Stephen Jay Gould – e ver quantos xarás fãs de Darwin ele tem.
(Aqui é necessária uma explicação. Steven, Stephen, Stephanie etc. são todos variações do mesmo nome: Steve. Um nome muito popular, diga-se de passagem: 1,14 milhão de cidadãos norte-americanos se chamam Steven – para não falar nos 788 mil Stephens, 607 mil Stephanies e 358 mil Steves).
O número subiu rápido: em um mês havia 220 Steves e cia. Hoje, já são 1,41 mil – você pode ver a lista completa aqui. Como 1% da população norte-americana se chama Steve, é só fazer as contas para descobrir que há no mínimo 141 mil cientistas no mesmo time que Darwin. Bem mais do que os 840 da lista de opositores do Instituto Discovery – uma das maiores que há por aí. Para não falar no fato de que, desses 840, só 258 tem qualificação acadêmica (um mestrado ou doutorado na área) para comentar o assunto.
Mas eu já estou fazendo contas para provar uma teoria por votação – exatamente o oposto do que a NCSE queria. Melhor parar por aqui.
Vou deixar vocês com uma tirinha que um Steve muito legal, o Steven Pinker, de Harvard, colocou em um de seus livros sobre cérebro e linguística. Diante de uma prateleira cheia de Steves, o personagem principal não tem a menor dúvida: “Se ele se chama Steve, ele deve saber do que está falando”.