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Talvez nós já tenhamos encontrado aliens. Só que ninguém percebeu.

Cientistas espanhóis propõem algo ousado: é bem provável que o ser humano já tenha passado batido por sinais óbvios de vida inteligente em outros planetas

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 mar 2019, 11h11 - Publicado em 11 abr 2018, 16h19
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  • Vamos começar com um experimento científico. No vídeo abaixo, há seis pessoas, três de camisa preta, três de camisa branca. Elas estão fazendo passes com bolas de basquete. Sua missão, leitor, é simples: contar quantos passes foram feitos pelas que estão de camisa branca. Não pode confundir.

    Terminou? Legal. Contou quantos? 15? 16?

    E o cara fantasiado de gorila que se enfiou no meio do vídeo, o que achou dele?

    Como assim? Você não viu ninguém fantasiado de gorila? Então assista de novo, porque ele está lá.

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    Esse experimento, feito em Harvard em 1999, é um dos mais famosos da história da psicologia. Mais da metade das cobaias simplesmente não nota quando o homem primata surge no take, por mais óbvia que seja sua presença. É a prova de que nosso cérebro, quando está concentrado em uma coisa, ignora solenemente todo o resto.

    Falando assim, é engraçado. Mas e quando não há ninguém por perto para avisar que há um gorila passando? Ou pior: e quando ninguém sabe que há alguma coisa passando? Uma dupla de astrobiólogos da Universidade de Cádiz, na Espanha, publicou um artigo científico em que essa possibilidade é aplicada à escala cósmica: talvez o ser humano já tenha encontrado sinais de vida inteligente em outros planetas – mas não se deu conta disso porque esses sinais apareceram em estudos científicos que tinham outros objetivos, ou porque a maneira como nosso cérebro é estruturado não ajuda.

    Gabriel de la Torre e Manuel Garcia explicam usando o exemplo de uma cratera de formato atípico no planeta-anão Ceres, na periferia do Sistema Solar. “Nossa mente nos diz que essa estrutura se parece com um triângulo com um quadrado no meio”, afirmam em comunicado. “Nós estamos vendo coisa onde não tem, algo chamado pelos psicólogos de pareidolia [a capacidade de enxergar rostos em imagens de objetos inanimados]. O oposto também pode ser verdade. Talvez os sinais de vida inteligente estejam debaixo do nosso nariz e nós não sejamos capazes de percebê-los. É o efeito do gorila na versão cósmica.”

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    Para reforçar, eles criaram uma alternativa ao experimento célebre, em que primata aparecia escondido em fotos aéreas de paisagens naturais e urbanas (como as que você vê quando aciona a função “satélite” no Google Maps). Dos 137 voluntários que observaram as imagens sem saber da existência do animal, 91 não perceberam que ele estava lá. É fácil transpor essa ideia para a rotina de um astrônomo, que se debruça diariamente sobre enormes regiões do céu, e inevitavelmente ignora o que está em volta para se concentrar no astro ou fenômeno que é seu objeto de estudo.

    Partindo desse ponto, as especulações foram longe: para os dois cientistas, é bem provável que existam formas de vida tão avançadas tecnologicamente que já sejam capazes de manipular segredinhos do espaço-tempo que estão além da nossa imaginação – como dimensões espaciais além das três conhecidas e a matéria escura (que é absolutamente indetectável com as tecnologias de observação atuais, mas que, ao que tudo indica, corresponde a 85% de tudo que existe no Universo). Essas estariam fora do alcance de métodos comuns de busca por vida inteligente. 

    Hoje, nós estamos acostumados a classificar civilizações alienígenas hipotéticas pelas tecnologias de comunicação e produção de energia que seriam aplicadas por elas. Mas quem garante que os ETs por aí usem ondas de rádio como nós? Quem garante, inclusive, que eles tenham órgãos de visão que funcionem transformando radiação eletromagnética de um certo espectro em imagens? Nosso cérebro constrói a realidade de uma maneira muito peculiar, e nós damos essa maneira por certa porque as alternativas estão além da nossa capacidade cognitiva. Não conseguimos nem imaginar que cor teriam as radiações infravermelha e ultravioleta se pudéssemos observá-las. 

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    Tudo isso, claro, está na fronteira entre ciência e filosofia. A busca por vida inteligente é uma empreitada recente. A lição de De la Torre e Garcia é que talvez a gente esteja apostando muito alto em algo improvável: que os alienígenas inteligentes que com certeza estão espalhados por aí sejam parecidos demais conosco.

     

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