Quantas diretoras de cinema você conhece? Conta-se nos dedos os nomes de mulheres cujas obras chegam ao grande público da sétima arte. A violência de gênero no cinema não está só nos inúmeros casos de abusos cometidos por figurões da indústria. Assim como na maioria dos espaços sociais, a indústria cinematográfica também é um reflexo da desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
“A dita indústria se construiu a partir das relações de poder que replicam estruturas mais gerais da sociedade. Quando Hollywood se consolidou, por exemplo, mulheres e outras minorias trabalhando na parte técnica e artística foram para escanteio, com os homens dominando os processos de produção”, afirma Susy Freitas, professora e crítica de cinema do site Cine Set e membro do coletivo Elviras (Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema) e da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).
A importância de se discutir o papel feminino no cinema, segundo Susy, é “visibilizar artistas e profissionais que acabam não conseguindo o mesmo espaço que seus pares por uma questão de gênero e também pela forma como as pessoas que se identificam com esse gênero passam a ser representadas”. Com algumas indicações de Susy, listamos alguns nomes femininos importantes para a consolidação da sétima arte e sua indústria.
1) Alice Guy-Blaché
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A francesa é, hoje, tida como a mãe do cinema. “[Alice Guy-Blaché] inventou o conceito de cinema narrativo paralelamente a Georges Méliès”, afirma Freitas. Durante o início da era do cinema, Alice dirigiu, escreveu, produziu e comandou estúdios, mas caiu no esquecimento por décadas até ser redescoberta.
2) Dorothy Arzner
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No início do cinema norte-americano, mulheres eram comuns nas mais diversas funções, e Dorothy Azner era uma das que transitavam entre atuação, direção, montagem e produção. Azner foi a primeira mulher a entrar para o Directors Guild of America, em 1939, e a dirigir um filme falado. Seus trabalhos foram alguns dos primeiros a abordar a homossexualidade e, por isso, foi bastante atingida pelo Código Hays, uma série de medidas que proibia temas polêmicos do cinema nos anos 30.
3) Ida Lupino
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Examinando o próprio mercado atual, é possível enxergar em quais áreas de produção mulheres têm mais chances de conseguir espaço. Segundo Freitas, Ida Lupino resistiu às mudanças da indústria pós-anos 20, que limitavam a presença feminina aos departamentos de arte, figurino, direção de arte ou atuação.
4) Germaine Dulac
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Para Susy, Dulac “trouxe contribuições importantes para a consolidação da possibilidade de entender o cinema como arte”, principalmente por filmes como A Concha e o Clérigo (1928), marco inicial do movimento surrealista no cinema. O movimento, no entanto, daria mais fama ao nome do diretor Luís Buñuel.
5) Hattie McDaniel
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Se mulheres no cinema já são uma raridade, mulheres negras demoraram ainda mais para ter seus talentos reconhecidos pela indústria. Filha de escravos, Hattie McDaniel foi a primeira atriz negra a ganhar um Oscar, de Melhor Atriz Coadjuvante, por “…E O Vento Levou” (1940). Mesmo assim, por pouco não foi barrada: o hotel que sediava a cerimônia e proibia a entrada de negros só permitiu que McDaniel ficasse após pedidos do produtor do filme.
6) Fernanda Montenegro
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Primeira latino-americana a receber uma indicação para um Oscar de atuação por seu trabalho em Central do Brasil (1998), Fernanda Montenegro é também a única atriz indicada por um filme em língua portuguesa. Além do cinema, Fernanda também já foi vencedora do Emmy Internacional. Sua perda do Oscar é uma das grandes polêmicas da premiação.
7) Kathleen Kennedy
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“Provavelmente a produtora mais poderosa do cinema atual”, afirma Susy Freitas. Kennedy é fundadora da The Kennedy/Marshall Company e, atualmente, preside a Lucasfilm após a venda da companhia para a Disney. Ao longo de sua carreira, produziu filmes como E.T – O Extraterrestre (1982), A Cor Púrpura (1985), A Lista de Schindler (1993), Persépolis (2007), O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) e os novos filmes das franquias Star Wars e Indiana Jones.
8) Geena Davis
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A atriz, famosa por Beetlejuice – Os Fantasmas se Divertem e ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por O Turista Acidental, ambos de 1988, é uma das maiores ativistas pela representação de gênero na indústria. Em 2003, fundou o Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia, que apoia pesquisas para eliminar as diferenças de representação de gênero nas mídias, focando na educação por meio da representatividade.
9) Kathryn Bigelow
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Essa talvez seja uma daquelas coisas que nos perguntamos: como pode não ter acontecido antes? Mas Kathryn Bigelow foi a primeira – e, até agora, única – mulher a ganhar o prêmio de Melhor Direção por seu filme Guerra ao Terror (2009), na 82ª entrega do Oscar. Pois é. 82 anos para que uma única mulher ganhasse o prêmio. Quantas foram indicadas ao longo da história? Quatro.
10) Sofia Coppola
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Terceira geração de uma família intimamente ligada ao cinema, Sofia é uma das quatro mulheres indicadas ao Oscar de Melhor Direção por seu filme Encontros e Desencontros (2004). Muito conhecida pela delicadeza que emprega em suas obras, em 2017, Sofia venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes – talvez o mais influente do mundo – com seu filme “O Estranho que Nós Amamos”.
11) Ashley Judd e todas as que passaram por assédio
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A explosão de denúncias de assédio sexual que tomou a internet nos últimos meses teve início com uma reportagem do jornal The New York Times, cuja personagem mais conhecida era a atriz Ashley Judd, que denunciava, junto com outras mulheres, o até então todo-poderoso de Hollywood, Harvey Weinstein.
Com o passar dos dias, dezenas de mulheres denunciaram o produtor, e vítimas de outros assediadores também tomaram coragem para contar suas histórias. “Com as iniciativas de resistência atuais e a lenta conscientização social de que relações de poder não precisam e nem devem ser baseadas em abuso, acredito que será até economicamente mais viável que a indústria reprima atitudes como a de Harvey Weinstein”, afirma Freitas, que completa: “e tudo começou com mulheres denunciando a situação, então sim, elas estão mudando esse cenário”.